A era de ouro da televisão americana

Precursora dos dramas de qualidade, “Hill Street Blues” não era um fenômeno de audiência nos EUA. Vencedora de 8 prêmios Emmy em 1981, ela não foi prematuramente cancelada porque recebia rasgados elogios da crítica e tinha enorme repercussão na imprensa.

A popularização dos dramas de qualidade ocorreu apenas em 1990, quando David Lynch e Mark Frost decidiram brincar com o imaginário dos americanos.

O episódio de estreia de “Twin Peaks” atraiu 34,6 milhões de telespectadores à CBS em 8 de maio daquele ano  – para se ter ideia, o capítulo final de “Dallas”, em 1991, não passou dos 33,3 milhões de telespectadores.

A misteriosa morte de Laura Palmer e as bizarrices que cercavam a cidade fictícia que dá nome à série perturbaram e instigaram o público. Pela primeira vez, uma narrativa densa, comparável a um livro, saiu da lanterna da audiência.

O sucesso da dobradinha Lynch/Frost abriu caminho para os roteiristas inovarem mais e mais. Nesse cenário altamente favorável à criatividade, a TV americana recebeu, apenas na década de 1990, “Nova York Contra o Crime”, “ER”, “The West Wing”, “OZ” e “Família Soprano”, série do primeiro anti-herói da TV, o mafioso Tony Soprano.

“Família Soprano mostra uma América onde os valores não têm mais importância e a cobiça e a pressão se tornam tamanhas que um chefe da máfia não consegue mais aguentá-la. O Tony Soprano se torna um herói exatamente por isso. Pois mesmo com todo o poder que ele tem, ele não consegue exatamente o que quer, ou saber o que quer", filosofa o roteirista Celio Ceccare.

Em relação à quantidade de séries de qualidade produzidas, os anos 2000 são imbatíveis. “Deadwood”, “The Wire”, “House”, “Monk”, “Boston Legal”, “Damages”, “Band of Brothers”, “Breaking Bad” e “Mad Men” são alguns dos destaques do período.

A chegada das plataformas de streaming, na década de 2010, interrompeu a escalada de qualidade da TV americana. Incapaz de suprir a nova demanda, a indústria substituiu a inovação pela repetição. Salvam-se desse cenário infeliz “Better Call Saul”, prequel de “Breaking Bad”, “The Deuce”, “Homeland” e “Masters of Sex”.