Por que a Netflix subiu os preços

A Netflix reajustou na última quinta-feira os preços de seus principais planos. O básico subiu de R$ 21,90 para R$ 25,90. O padrão, de R$ 32,90 para R$ 39,90. O premium, de R$ 45,90 para R$ 55,90. O que mais se ouviu depois do anúncio: por que diabos a gigantes do streaming decidiu subir seus preços no momento em que tantos players de peso estão chegando ao mercado?

A exemplo da Globo, que é líder da TV aberta e pode se dar o luxo de criar novos formatos comerciais em plena pandemia, a Netflix tem gordura de sobra pra queimar. Seus assinantes são muito fiéis -- ignorem a histeria das redes sociais em geral -- e numerosos. Ainda que um ou outro consumidor promova downgrade ou abandone a plataforma, a probabilidade do faturamento despencar de forma alarmante é baixa. Quase incipiente.

Segunda grande plataforma de conteúdo a aterrissar no Brasil, a Amazon Prime trouxe ao mercado uma solução ousada para quem quer se estabelecer na fatura de cartão de crédito dos espectadores: cobrar pouco e entregar muito. Última a chegar à farra do streaming, a HBO Max correu nessa direção, derrubando radicalmente seus preços de entrada. Por que empresas tão grandes precisam disso? Para criar fidelidade. Mesmo Globoplay e Disney Plus, mais descoladas dessa política, arriscam ofertas e combos para engordar suas carteiras.

A netflixdependência não está mais relacionada às séries de apelo -- "Friends", "Grey's Anatomy etc. -- da TV aberta americana, mas aos conteúdos originais produzidos de 2018 para cá. Se nos primeiros anos a Netflix desejava concorrer com a HBO, e "House of Cards" e "Orange Is The New Black" eram boas o suficiente para tal, o intento agora é criar mais e mais conteúdo viralizável, maratonável, de engajamento instantâneo, ao estilo de "Elite". A lógica é simples: se a geladeira está cheia, ninguém deixa a festa. Assim, o que deveria ser a bancarrota da Netflix -- o fim dos contratos com Warner, Fox e outros estúdios -- foi o ponto de virada para seu fortalecimento a longo prazo.

De "locadora" digital à criadora de conteúdos, a Netflix é dona do seu próprio caminho. Por isso, cobra o que quer. Quando quer. Para quem quiser.