Mauro Cezar, as novas plataformas e o velho jornalismo

Mauro Cezar Pereira saiu da ESPN Brasil. A decisão do jornalista, chocante para os fãs, não é propriamente uma surpresa. Benjamin Back, que trabalha no mesmo grupo de comunicação, não admitiu o contrato de exclusividade proposto pela Disney. Às voltas com inúmeras plataformas e possibilidades, Mauro seguiu o mesmo caminho. Sabiamente.

Há uma pressa gigantesca para enterrar a TV e tornar a internet a grande tela do mundo. Isso é besteira. Tecnologias existem para convergir. VHS, DVD e Netflix são variantes de um mesmo segmento: o entretenimento doméstico. A mídia física perdeu espaço, não a categoria por ela representada. O YouTube, sobretudo no Brasil, onde a imensa maioria da população é desassistida social e tecnologicamente, não nasceu para enterrar a Globo ou o Discovery Channel. São produtos complementares, que ajudarão a reduzir as disparidades publicitárias entre as mídias.

A TV sempre faturou muito mais que as revistas, as rádios etc. Isso tende a continuar nas próximas décadas, mas com outros números. Globo, SBT, Record, Band e RedeTV! terão de se acostumar a viver com uma fatia inferior a 50% dos anúncios correntes no mercado. Isso, em 2005, era impensável. Em 1995, ainda menos. Acontece que os tempos mudaram. E com eles, a matemática do break. As poderosas TVs abertas terão de reduzir o valor dos comerciais se quiserem reagir à ofensiva do Google. Os canais pagos, dependentes também da política de assinaturas, estão ainda mais enrascados – ou os programadores recuam para a década de 1990 e voltam a oferecer programação premium e segmentação por categorias de interesse ou desaparecerão dos combos de Claro e Vivo antes do telefone fixo.

Quando a publicidade digital engatinhava, e ela ainda está longe de caminhar firme, quem escolhia trabalhar com comunicação torcia pela estabilidade profissional. Assinar um contrato de longa duração era o passo definitivo rumo ao sucesso. Não mais. Os bons profissionais querem liberdade para buscar outros públicos e aproveitar essas novas janelas comerciais, geralmente abastecidas por empresas e plataformas que não podem ou não precisam recorrer ao canhão da TV aberta. É por isso que a exclusividade custa mais hoje do que em 2005. Ou 1995. Não basta mais cobrir a oferta da emissora concorrente. É necessário pensar nos ganhos das redes sociais.

Não bastasse a liberdade financeira, a internet tem predicados editoriais. Ainda que, atualmente, ela seja usada basicamente para a promoção de notícias falsas e clickbaits, sua essência é a diversidade e o conteúdo on demand. Mauro Cezar é adepto do jornalismo clássico, direto ao ponto, e este anda um tanto esquecido na TV e nos grandes portais. Dono do próprio nariz, não será mais obrigado a responder se o Corinthians pode jogar a próxima Libertadores quando ganhar um jogo e se ele corre risco de cair quando perde o seguinte. Para quem leva o ofício a sério, como produtor ou espectador, isso significa muito.

O comentário no mercado é que o SBT quer aumentar a presença do esporte na programação. A Band, feliz com os resultados do "Show do Esporte", também olha o futebol com bons olhos. É questão de tempo para Mauro Cezar receber convites e retornar à TV.