Governo erra ao querer equiparar verba publicitária das emissoras de TV
Na última segunda-feira, 7 de janeiro, Jair Bolsonaro explicou como pretende democratizar as verbas publicitárias de seu governo.
"Nenhum órgão de imprensa terá direito a mais ou menos, naquilo que nós, de maneira bastante racional, viremos a gastar com a nossa imprensa. Que nós queremos, sim, cada vez mais, que vocês sejam mais fortes e isentos, e não sejam como alguns infelizmente o foram a pouco tempo ainda, parciais. A imprensa livre é a garantia da nossa democracia. Vamos acreditar em vocês, mas essas verbas publicitárias não serão mais privilegiadas para a empresa A, B ou C", disse.
Todo adulto razoavelmente esclarecido sabe que esse papo de "democratização de verbas", no Brasil, é sinônimo de chantagem e intimidação. O PT passou 14 anos no Palácio do Planalto e não fez nem um décimo do que ameaçava. Limitou-se a criar uma rede de blogueiros safados - estratégia, claro, copiada por Temer e Bolsonaro - e a destruir a TVE para criar a insuportável TV Brasil.
O alvo de Jair Bolsonaro, como sempre, é a Globo. Em vez de equiparar a audiência da emissora ao budget estatal, impedindo que sua participação no rateio suplante os números do ibope, o governo pretende distribuir verbas idênticas para todas as emissoras. Na prática, isso significa a troca de uma distorção por uma outra, igualmente imbecil.
Os números de audiência são muito claros. A Band, em média, não passa de 1 ponto no PNT. A Globo, mesmo sem a pujança de outrora, está sempre confortável nos dois dígitos. Ignorar essa distância na hora da contratação dos serviços é castigar o orçamento do país, não os executivos da maior emissora do país, repleta de opções, produtos, negócios e patrocinadores privados.
A discussão sobre a publicidade estatal é saudável e necessária, mas depende de fundamentos claros e objetivos. O governo não pode ser patrão e cliente da imprensa. E é essa relação, em voga desde a proclamação da República, que precisa ser dirimida.