Nos últimos anos, a tendência que mais se sobrepõe a todas as outras é a de falar mal de tendências. Isto é, em qualquer rede social, é maior o número de usuários reclamando de quem fala de determinado assunto "da moda” do que o de pessoas que, de fato, estão falando sobre o tal assunto. Com Stranger Things é a mesma coisa. Antes mesmo da segunda temporada estrear na Netflix, começaram as reclamações, algo como "lá vem o pessoal babar na série das referências dos anos 80 de novo." Ser estraga-prazeres é um recurso muito utilizado por quem precisa se sentir superior, mas não deve se confundir com os objetivos de um crítico profissional. Pois então, e a segunda temporada de Stranger Things? É boa?
Há uma cena em que, depois de muita resistência, Lucas (Caleb McLaughlin) conta tudo o que aconteceu na primeira temporada a Max (Sadie Sink), uma menina recém-chegada na cidade de Hawkins. Sem acreditar em uma única palavra, ela diz que a história toda não é lá muito original. A cena é uma piada óbvia com aqueles criticam a série com o argumento de que o roteiro nada mais é do que um pot-pourri de referências de filmes queridos pela geração que tem como público alvo, aqueles que nasceram ou cresceram durante a década de 1980.
Na primeira temporada, a aparente falta de originalidade não era um problema porque os personagens, sobretudo, compensavam. Não mais. Eleven (Millie Bobby Brown), por exemplo, deixa de ser aquela garota intrigante para se tornar uma pré-adolescente propensa a chiliques e que utiliza seus poderes para bater a porta quando enfezada. Na segunda temporada, o único personagem que demonstra alguma mudança mais interessante é Will Byers (com atuação impressionante de Noah Schnapp), mas é preciso lembrar que ele quase não aparece na primeira. Bob Newby (Sean Astin) é um novo personagem, simpático, mas os criadores forçam a amizade sempre que ele repete seu chavão “easy-peasy” – e a sua função na história é óbvia e ordinária.
Há a sensação constante de que os irmãos Matt Duffer e Ross Duffer fizeram a segunda temporada levando em consideração todos os comentários e as dúvidas dos fãs da série depois da primeira temporada, como, por exemplo, a necessidade de resolver a situação de Barb ou mostrar a família de Lucas etc.. Talvez por isto, há uma certa superficialidade, que só piora quando tudo é explicadinho aos mínimos detalhes, sempre com muitos flashbacks, para ter certeza de que tudo ficou bem claro mesmo. Atender aos pedidos dos fãs, o chamado "fan service”, pode ser um trabalho árduo que acaba não satisfazendo por completo nem ao criador e nem ao público.
Neste sentido, Stranger Things 2 é a antítese perfeita de Twin Peaks - O Retorno, também na Netflix. Em sua série, o diretor David Lynch não explica nada, não abusa de flashbacks e não está nem aí para o que os fãs mais nostálgicos queriam ver ou saber. É pela falta de condescendência com o espectador que Twin Peaks - O Retorno é uma série tão mais interessante – e, sim, original – do que Stranger Things 2.