Documentário da "Escola Base" é trabalho de relações públicas da Globo

A Globo é ótima para apontar dedos, mas tímida na hora do mea-culpa. "Escola Base: Um Repórter Enfrenta O Passado", documentário do Globoplay sobre a barbarizante cobertura dos infundados casos de pedofilia atribuídos à instituição de ensino é muito menos agudo que o "Linha Direta" sobre o sequestro de Eloá, cheio de dedos apontados à Record e RedeTV!, e muito mais chapa-branca que um programa da TV Brasil.

O produto, por enquanto restrito ao streaming, trata o experiente repórter Valmir Salaro como um coitado que não teve outra alternativa a não ser acreditar cegamente no relato de uma criança manipulada pela mãe e referendá-lo em rede aberta, com uma impactante aparição no "Jornal Nacional".

Repórteres não são juízes para determinar quem mente e quem fala a verdade e não circulam por aí com o polígrafo do programa do Gilberto Barros. Surpreende, porém, que um profissional como Salaro tenha admitido conversar com uma testemunha-chave na presença dos pais, donos da situação, e não tenha estranhado declarações como "o pipi do meu filho crescia, ficava grandão, do tamanho do homem" --como uma criança de quatro anos compararia o "pipi" dele com o de um adulto?

A "inocência" de Valmir Salaro implodiu qualquer chance de piedade do primeiro delegado do caso, que a despeito da ausência de provas materiais queria manter todos presos, e da imprensa. A partir do momento que a Globo decidiu levar ao ar aqueles depoimentos, jornais, revistas, rádios e TVs concorrentes deram força à tese da "escolinha do sexo". Foi necessário o governo estadual agir, substituindo as forças policiais envolvidas no inquérito.

Editado como um programa de Geraldo Luis, "Escola Base: Um Repórter Enfrenta O Passado" aposta no encontro de Valmir Salaro com Ricardo Shimada, filho dos proprietários da Escola Base, para arrancar lágrimas dos espectadores e lavar a alma do jornalismo da emissora, a esta altura também visto como vítima de uma avalanche de erros.

O Gugu explicando o caso PCC pra Hebe é mais divertido e comovente.