Em luto, "Jornal Nacional" lamenta 500 mil mortes pela Covid-19 e faz editorial
Para expressar luto pelas 500 mil mortes por Covid-19 no Brasil, o "Jornal Nacional" abriu a edição deste sábado com uma escalada alternativa, sem trilha sonora, e exibiu um editorial com críticas ao governo federal pelo mau trabalho no combate à pandemia.
Sem citar Jair Bolsonaro, o texto lido por William Bonner e Renata Vasconcellos fala dos "muitos e muitos graves" erros cometidos pelas autoridades, destacando "a aposta insistente e teimosa em remédios sem eficácia, o estímulo frequente a manifestações, a postura negacionista e inconsequente de não usar máscaras... E o pior: a recusa em assinar contratos pra compras de vacinas a tempo de evitar ainda mais vítimas fatais".
Exibido das 20h30 às 21h25, o "Jornal Nacional" só não repercutiu a Covid-19 no primeiro bloco, dedicado ao serial killer de Brasília, à Eurocopa e ao novo presidente do Irã, e registrou 24 pontos de média na pesquisa preliminar da Grande São Paulo.
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LEIA O EDITORIAL DO JN
"Em agosto do ano passado, quando o Brasil ultrapassou o registro escandaloso de 100 mil mortes pela Covid, o 'Jornal Nacional' se manifestou sobre essa tragédia em um editorial. Parecia que o país tinha superado um limite inalcançável: 100 mil mortos. Hoje são 500 mil. Meio milhão de vidas brasileiras perdidas. O sentimento é de horror. E de solidariedade incondicional às famílias das vítimas. São milhões de cidadãos enlutados. É evidente que foram muitos e muito graves os erros cometidos. E eles estão documentados por entrevistas, declarações, atitudes, manifestações. A aposta insistente e teimosa em remédios sem eficácia, o estímulo frequente a manifestações, a postura negacionista e inconsequente de não usar máscaras... E o pior: a recusa em assinar contratos pra compras de vacinas a tempo de evitar ainda mais vítimas fatais.
No editorial que marcou as 100 mil mortes, nós dissemos que era preciso apurar de quem é a culpa, dissemos textualmente que esse momento chegaria. Desde o início de maio o Senado está investigando responsabilidades. Haverá consequências. E a mais básica será a de ter levado ao povo brasileiro o conhecimento sobre como e porquê se chegou até aqui. Quando todos nós olharmos para trás, quando perguntarem o que fizemos para ajudar a evitar essa tragédia, cada um de nós terá a sua resposta. A esmagadora maioria poderá dizer com honestidade e com orgulho que fez de tudo, que fez a sua parte e mais um pouco.
Nós, do jornalismo da Globo, estamos há um ano e meio, com base na ciência, cumprindo o nosso dever de informar sem meias palavras. Muitas vezes nós pagamos um preço por isso, com incompreensões de grupos que são minoritários, mas barulhentos. Não importa. Nós seguimos em frente, sem concessões. E seguiremos em frente, sem concessões. Porque tudo tem vários ângulos e todos devem ser sempre acolhidos para discussão. Mas há exceções. Quando estão em perigo coisas tão importantes, como o direito à saúde ou o direito a viver em uma democracia, não há dois lados. E é esse o norte que o jornalismo da Globo continuará a seguir".