"CQC" só vai reencontrar o sucesso quando tirar os óculos escuros

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O provável cancelamento do "CQC" - por que diabos um "resumo semanal de notícias" tiraria férias durante os Jogos Olímpicos e os desdobramentos da crise política? - não é reflexo do desgaste do formato ou do aumento da concorrência nas noites de segunda-feira, mas sim do desapego ao humor.

Com poucos repórteres engraçados no elenco - Lucas Salles e Maurício Meirelles são os únicos dispostos a fazer rir - e um ator no papel de apresentador, o programa trocou a irreverência pela patrulha das redes sociais e a agilidade pela modorra das revistas eletrônicas.

Um exemplo? Na edição de 7 de dezembro, a produção do humorístico reuniu alguns taxistas apatetados e a piloto Bia Figueiredo, estrela da Fórmula Indy e da Stock Car, para um desafio de kart. A pauta, batidíssima, só valeu a pena pelas imagens. O repórter Erick Krominski foi incapaz de criar frases de efeito ou tiradas divertidas, como seus antecessores. Limitou-se a repetir a palavra “machista”, como se fosse líder de movimento estudantil.

A ascensão desse ar professoral atrapalhou também as intervenções da bancada. As participações de Marco Luque e Rafael Cortez, antes aguardadas pelo público, perderam a razão de existir. Preocupados com os formadores de opinião da internet, aqueles que não prestam atenção na TV nem quando passam pelo quarto da empregada, resolveram apelar aos comentários genéricos, na esperança da gargalhada por W.O.  

Do vazamento da carta do vice-presidente às urnas quebradas na sessão que instaurou o processo de impeachment, do cidadão agredido por contratar Uber ao ator que cobra aplausos por entregar um filme 20 anos após embolsar os primeiros incentivos fiscais, o Brasil regrediu o máximo que pôde durante 2015. Alheio à rotina da sociedade real, que não se expressa com hashtags, o "CQC" perdeu a oportunidade da redenção. Ficou com os óculos escuros na mão.