Absolute Cinema: Silvio Santos e a final da Casa dos Artistas

A final da "Casa dos Artistas 1" é a representação mais potente das qualidades de Silvio Santos, o maior apresentador da TV brasileira. Em uma noite de dezembro de 2001, o dono do baú da felicidade inscreveu o reality show no rol dos gêneros mais profícuos do showbiz nacional, promoveu um crossover inesperado com a Record, bateu o recorde de vendas de carros utilitários da Fiat, deu um empurrão providencial para Supla finalmente receber um disco de platina e fez história no ibope, impondo à Globo a maior derrota de sua história: 55 a 16.

Os pontos altos daquela noite foram a entrega da maleta com o prêmio de R$ 300 mil a Barbara Paz; a ordem para repetir o comercial do Dobló, carrinho tipo Fiorino, para Silvio poder ouvir "Like A Virgin", da Madonna; a DR entre Alexandre Frota e Daniela Freitas, assistente de Milton Neves, com comentários de Felipão; e a festa de encerramento do programa, uma apoteose compartilhada por funcionários de TV, celebridades de diferentes escalões, artistas do SBT e Eduardo Suplicy (!). Entretenimento fantástico de verdade.

Durante quase horas, Silvio dominou a Globo com um punhado de tapes exibidos em outros dias da "Casa", dois breaks falsos (ele simulava a entrada dos comerciais para induzir a equipe do "Fantástico") e dezenas de telefonemas de espectadores. Nenhum esforço. Todo o ibope. Para ganhar tempo e estender a surra, asfixiando a adversária um pouquinho mais, Silvio leu desde reportagens da Super Interessante sobre as lágrimas de Mari Alexandre até as colunas de José Simão com os melhores apelidos de Alexandre Frota, o "rinoceronte de sunga". A classe média, tão bem simbolizada pelo SBT, comemorava o primeiro lugar na audiência, o grande Coliseu, e a capa da Folha, o jornal da elite pensante.

Sociólogo, leitor, estrategista, motorista de utilitários, DJ, banqueiro, terapeuta e apresentador. Silvio Santos era uma lufada de ar fresco na mesmice, na afetação e na chateação. Era o nosso tudo em um. E único.