A meritocracia de Joice Hasselmann

Joice Hasselmann está irritada com o Teleguiado. Nesta sexta-feira, a famosíssima jornalista reclamou que um "ilustre zé ninguém" ficou dodói com a série "Pensando Juntos" e seus robustos carros de luxo.

"Trabalho muito, ganho meu dinheiro e incomodo os medíocres. ADORO O CAPITALISMO. Viva a meritocracia", disse.

Eu não tenho problema nenhum em ser chamado de "ilustre zé ninguém" ou "pateta". Ano passado, o Buzzfeed disse que eu era um "anônimo". É motivo de orgulho ser rejeitado por quem desrespeita o jornalismo. Triste, triste mesmo, é ler gente acusada de plagiar 65 reportagens evocar a meritocracia como justificativa para comprar quatro carros. Da mesma maneira que uma infeliz que não sabe a regra dos "porquês" pode postar uma série no YouTube, um pobretão pode encontrar um bilhete da loteria e aproveitar o capitalismo.

Alguns fãs de Joice Hasselmann insinuaram que meu artigo desmerece a intenção e o esforço da atriz-jornalista-roteirista-produtora. A análise, no entanto, é puramente técnica. Notem que as deficiências apontadas - a interpretação de quinta categoria, o texto de aluno do primário etc. - não receberam contestações. Só a piadinha do Porsche causou mal-estar.

O avanço do antipetismo destruiu o critério de qualidade da direita. De Roberto Jefferson a Alexandre Frota, de Sara Winter a Joice Hasselmann, basta um infeliz declarar guerra ao PT para ganhar coroas de flores e fã-clube na internet. Para os medíocres, a realização de um sonho. A prova de um mérito de baixa reputação.