Sobre racismo, etimologia e "fake news do bem"
Na esteira do Dia da Consciência Negra, a Agência Lupa publicou que a palavra "criado-mudo" evoca o período escravagista e, portanto, deve ser riscada do vocabulário nacional. Muita gente concluiu que a informação era verdadeira -- quem combate fake news não mentiria, não é mesmo? -- e partiu para o dicionário de sinônimos. A maioria, desconfio, adotou "aparador" como substituto. É chique e não colabora com o racismo estrutural.
As redes sociais fizeram mal à esquerda. A militância social, fundamental para garantir direitos e evitar a violência, a fome e outras mazelas que castigam minorias, perdeu espaço para a claque digital, que é estruturalmente estéril. Quem diz por aí que "denegrir" e "doméstica" são palavras preconceituosas só está ajudando a extrema-direita, que adora usar essas caricaturas para pintar tudo de vermelho e sustentar que o comunismo está chegando. "Criado-mudo", como aponta o colunista Eduardo Affonso, de O Globo, é uma tradução literal de "dumb-waiter".
Essencial, o combate ao racismo se faz com políticas palpáveis e informações fidedignas. A mentira, o patrulhamento ideológico e a cultura identitária afastam as pessoas de bem e fortalecem os urubus que se alimentam do sectarismo. O Brasil tem códigos de conduta e punição em número suficiente para estabelecermos a ordem. Basta querer.