As aparências enganam (e só ofendem quando é conveniente)
Nas redes sociais, Rodrigo Maia é "bochechudo como o Quico", personagem de "Chaves". José Serra é um "vampiro". A atriz e deputada Joice Hasselmann é uma articuladora "peso-pesado". Henrique Meirelles, dizem, balança o pé quando ouve qualquer música da Madonna - a edição de 30 anos de "Like A Prayer", diga-se de passagem, é para ouvir sem os mocassins e com o sofá da sala arrastado para bem longe.
Sâmia Bomfim, deputada federal do PSOL, não é a primeira personalidade do Congresso Nacional cooptada por piadinhas e comparações negativas. É, no entanto, a primeira a contar com a ajuda dos bedéis das magras redações brasileiras. A mãozinha que faltou para os políticos elencados no parágrafo de abertura deste humilde post.
A turma da hashtag com coração, que agora levanta as mãos para os céus e amaldiçoa as piadas de gordo, tão velhas quanto Michel Temer, nunca refletiu se estava pegando leve ou pesado com Rodrigo Maia, Joice Hasselmann, Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin, Fernando Collor ou Heráclito Fortes. Baluarte da responsabilidade social e da diversidade, a "Carta Capital" chegou a publicar uma reportagem insinuando que um ex-ministro do governo Lula era gay sem que qualquer sindicato ou ONG levantasse a voz.
Claro que Sâmia Bomfim pode processar quem a chama de gorda. É ridículo uma mulher paga (com nosso dinheiro) usar a balança da Justiça para discutir piadas, mas direitos são direitos. O que não pega bem, a esta altura, é a relativização das piadas de salão. Ou todos os políticos e cidadãos brasileiros passam a contar com a chatíssima vigilância da imprensa que bate cartão na timeline do Twitter ou deixamos claro que todos são suscetíveis a piadas e processos, aplausos e vaias.
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