Respondo na lata: porque ele quis.
Por mais reprovável que tenha sido a reação de Will Smith, ela não representa uma ruptura com os limites do humor. Chris Rock fez a piada que bem entendeu e recebeu um tapa desproporcional, que mancha, acima de tudo, a reputação de bom moço do ator. Ninguém é condescendente com a violência –esqueçam, por um minuto, o brasileirinho do Twitter, esse cidadão iluminado que endossa até ataque terrorista na sede do Charlie Hebdo– em Hollywood. O pessoal pode ser cínico nos bastidores, como apontou Ricky Gervais anos atrás, mas não brinca em frente às câmeras.
Muitas pessoas estão preocupadas com o efeito Will Smith no Brasil de Jair Bolsonaro. É um exagero. Nosso país tem exemplos de selvageria muito mais aterrorizantes que o do Oscar. O Brasil profundo existe e está cada vez mais próximo da superfície. Comediantes já apanharam em protestos políticos anos atrás sem que ninguém ficasse escandalizado. Repórteres receberam chutes de militantes em coberturas oficiais. Faz parte do nosso show o cinismo do sopapo democrático. Garanto a vocês que a síndrome do pequeno poder e o desapego ao que é certo são mais velhos que Will e Chris. É mais fácil a gente ensinar algo animalesco ao maluco do pedaço do que o contrário.
A cultura do ofendido ganhou contornos fortes e inesperados com o advento das redes sociais. A manipulação da opinião pública por hashtags e a fabricação de falsas polêmicas deram outra dinâmica a um problema que, anos atrás, já era resolvido assim: com tapas e pontapés. Quem se ofende com piada é, evidentemente, um imbecil. A diferença entre Will Smith e os canceladores das redes sociais está no emprego das mãos. Um distribui tapas. O outro, tweets. No fim das contas, rodamos, rodamos, rodamos e terminamos na mesma timeline.
Não há nada de filosofal no arranca-rabo entre Will Smith e Chris Rock. Aproveitem o barraco como quem assiste ao Marquito apanhando do Ratinho.