Padre Kelmon: por quê?
Se você assistiu ao debate do SBT neste sábado, com certeza entendeu o título deste artigo.
Hoje, durante duas horas e dez minutos, os espectadores que perderam o controle remoto, ficaram sem internet ou estavam sem clima para sair de casa tiveram de aturar um debate presidencial com um padre que se entrasse no estúdio de "A Praça é Nossa" nunca mais sairia de lá. O pateta, que tem tudo para repetir a votação do bizarro Pastor Everaldo, que eu não faço a menor ideia se está vivo ou não, garantiu sua vaga no amplo estacionamento do Centro de Televisão da Anhanguera devido à lei eleitoral, que obriga os veículos de comunicação a convidar candidatos de partidos com representação de cinco ou mais deputados no Congresso. Sim, o pároco do metaverso pertence a uma legenda presente na Câmara.
A campanha presidencial de 2022 é a mais chata dos últimos doze anos. Soraya Thronicke vive em buffering. Simone Tebet é morna. Ciro Gomes parece um pastor, chamando todo mundo de "meu irmão". O candidato do Novo é o LS Jack da direita. Jair Bolsonaro perdeu a forma sem o "Superpop". E o tal do Padre... Bem, ele só serviu para puxar o saco da presidente. E puxar muito mal. Afoito e dependente de uma colinha que parece ter sido impressa em fonte Tahoma 08, o tal do cristão conservador rebaixou o já baixo conceito da "linha auxiliar". Se ele tivesse algum voto, com certeza pediria para o eleitor mudar de ideia e apertar 22 na urna. Alguns contam com enviados de Deus. Outros, com enviados de Roberto Jefferson.
Os melhores debates presidenciais do Brasil aconteceram em 1989. Entusiasmadas com o fim da ditadura, as redes de TV deitaram e rolaram na hora de formular as regras, impondo um formato que, anos mais tarde, recairia no "Barraco MTV": um mesão com gente de todas as matizes falando o que dá na telha. Boris Casoy, Marilia Gabriela e Alexandre Garcia (certamente estou me esquecendo de algum jornalista) rebolaram para controlar os ânimos de Brizola e Maluf, mas entraram para a história da nossa jovem democracia. Tudo o que veio depois disso é a antítese do que se espera de um evento eleitoral.
A Globo planeja exibir o debate presidencial de quinta-feira, o último da série da TV aberta, das 22h30 à 1h40 da madrugada.
Imagine aguentar três horas e dez minutos de Padre Kelmon. No fim da noite. Quase de madrugada.
Eymael é mesmo um injustiçado.