Juliette, a rainha do mimimi
Mimimi é ruim. Mimimi de milionário é ainda pior. Vejam o exemplo de Juliette, a rainha do BBB 21. Ela tem 34 milhões de seguidores nas redes sociais e venceu um enorme concurso de popularidade sem esconder o sotaque da Paraíba. Agora, com os bolsos cheios de dinheiro e as gavetas repletas de contratos publicitários, vai ao Instagram reclamar de "xenofobia".
"Vou deixar um recado para os haters, que hoje estou irritada: vocês vão escutar sotaques nordestinos em grandes publicidades, porque nós somos múltiplos, nós consumimos também outros tipos de músicas além do forró, além da nossa cultura tão bonita. A gente canta rock, rap, funk, hip-hop, sabia? Então, amor, beijo de luz! Vai escutar, sim!", disse.
Nunca ninguém teve problema algum com sotaques nordestinos na cultura pop. Ivete Sangalo, Caetano Veloso, Compadre Washington, Diumbanda, Claudia Leitte, Maria Bethânia e mais uma penca de artistas de variados gêneros triunfaram na indústria ostentando orgulhosamente suas origens vocais. Juliette está longe dessa gente porque canta mal, não por que canta como uma garota de Campina Grande. De fato, não tem uma música dessa moça que não teletransporte o ouvinte para um corredor mofado das Lojas Americanas em 2003. Não há sotaque neutro que impeça a ida a esse multiverso.
Os influenciadores digitais gostam muito do bônus da ocupação -- as permutas, os pagamentos etc. --, mas dão um piti danado quando recebem o ônus. A internet é, desde a época em que o André Marques tinha que praticamente sentar em cima do computador para evitar que frases como "Roberto Marinho Traficante" não vazassem ao vivo em "Malhação", um terreno repleto de hostilidades. Hoje, tive que aturar um blogueiro do IG copiando um texto meu sobre a RedeTV!. Semana passada, fui ofendido por petistas e bolsonaristas irritados com artigos sobre a Globo (!) e Gusttavo Lima (!!). E continuo aqui.
Se eu tivesse o tempo e o dinheiro de Juliette, talvez chorasse também. O vitimismo é um talento lucrativo pra caramba.