Casagrande está insuportável

Piores que as polêmicas criadas por Casagrande são as reclamações de adolescente incompreendido que ele espalha para se defender. Incomodado com a reação dos craques do penta ao chatíssimo pito “os argentinos ficam no meio do povo, os brasileiros não”, o ídolo do Corinthians disse ser “totalmente independente” e alheio ao comportamento infantil dos colegas e ex-colegas de bola, como se pertencesse a um estado moral diferente dos demais.

“Por que tudo que falo ou escrevo vira uma polêmica? Simples. Sou totalmente independente, não devo favores a ninguém, principalmente do meio do futebol. Sou direto nas minhas opiniões e a grande maioria dos ex-jogadores são mimados e acostumados a serem paparicados, e comigo não tem essa”, rugiu.

Casagrande julga ser mais racional que Neymar ou Vinicius Jr. Não é. Ele também gosta de ser paparicado. Tanto gosta que preferiu sair da Globo, onde não tinha espaço para se apresentar como professor de geopolítica de cursinho pré-vestibular, para receber tapinhas nas costas da imprensa esportiva que não fala de esporte. É uma realização profissional para Casão estar ao lado de Juca Kfouri e José Trajano. Fico sinceramente feliz com a felicidade dele, mas não endosso essa demonstração de superioridade emocional. Seu bife folheado a ouro é esse delírio intelectualoide. A presunção típica de uma esquerda que não é majoritária, mas ainda tem grande influência.

É natural um comentarista cheio de si perder a objetividade. Casagrande não é o primeiro —nem será o último— especialista em futebol a falar de política entre um e outro jogo. A diferença dele para seus ídolos é a falta de sutileza. Juca e Trajano são de esquerda, só que nunca contaminaram o “Cartão Verde”, o “Linha de Passe” ou o “Bola Na Rede”, três sucessos da crônica esportiva —este último tinha participações do não menos politizado Sócrates, cujo carisma era notado até nas páginas da Carta Capital. Casão é o oposto. Vive caçando picuinhas para alfinetar os outros. É uma vida baseada em “fulano janta enquanto 34 zilhões passam fome” e “beltrano não se insurgiu contra ciclano”.

Na cartinha aos campeões de 2002, além de cobrar de Marcos uma posição sobre Robinho, condenado por estupro na Itália, Casagrande disse achar deprimente receber dinheiro para ser “papagaio de pirata dos dirigentes da Fifa e do Catar num país que não respeita os direitos humanos, trata a mulher como um ser inferior, e defende a homofobia”, como fazem Kaká, Ronaldo, Roberto Carlos e Rivaldo.

Casagrande pode achar que não, mas também é papagaio de pirata dos engravatados da Fifa e do Catar. Não fosse, estaria agora em casa, e não “num país que não respeita os direitos humanos, trata a mulher como um ser inferior, e defende a homofobia” para cobrir a Copa. Estar ao lado dos dirigentes é mero detalhe nesse jogo de aparências.

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