A seleção brasileira emitiu ontem, depois do jogo contra o Paraguai, a nota de repúdio mais retranqueira da história do esporte. Os jogadores são contra a Copa América, acham errado sediá-la no Covidistão, mas disputarão a competição.
"Por fim, lembramos que somos trabalhadores, profissionais do futebol. Temos uma missão a cumprir com a histórica camisa verde amarela pentacampeã do mundo. Somos contra a organização da Copa América, mas nunca diremos não à Seleção Brasileira", disseram os pobrezinhos.
O âmago do 5-4-1 canarinho é racional. Todo trabalhador é obrigado a engolir sapos, a admitir incongruências, a convergir com inconsistências pessoais e coletivas. Acontece que o 'manda quem pode, obedece quem tem juízo' vale só para alguns dos 200 milhões de torcedores da equipe de Tite. Eu e você efetivamente corremos riscos quando nos opomos, de forma implícita ou explícita, aos desejos de nossos empregadores. Alguém crê que Neymar ou Douglas Silva perderiam algo abandonando a Copa América? Tenha dó.
A indústria da indignação é cúmplice da maioria das tragédias sociais do Brasil. É muito mais fácil parecer "antirracista" e criar campanhas de marketing com esse mote do que efetivamente trabalhar para aparar as arestas de educação e renda que inflamam a intolerância, por exemplo. No caso da pandemia, é mais prático colocar as mãos na cintura e fingir revolta com a realização de determinados eventos em vez de suspendê-los. É a nação dos revoltados a favor.
O manifesto dos jogadores do Brasil frisa que "em nenhum momento" quis politizar a questão da Copa América. Acredito neles. Nada no Brasil é político no sentido coletivo. Tudo é interesse individual -- de pessoas físicas e jurídicas. Quem pensa o contrário toma de 7 mesmo.