Personagem da alta elite paulistana, a escritora e jornalista Bárbara Gancia tirou o domingo para justificar a mensagem abaixo, endereçada a uma mulher que pedia orações para a madrinha de 97 anos.
"Não conheço e nunca tinha ouvido falar na autora do tweet. Por algum motivo, li seu pedido para rezar por sua madrinha de 97 anos internada com pneumonia. Impetuosa que sou, resolvi me colocar no lugar da madrinha e questionar: se eu estivesse internada não iria querer que rezassem pela minha recuperação. Creio que a passagem para o outro lado faz parte da vida e deva ser tratada com naturalidade (...) Admito ter sido um tanto insensível com a autora do tweet. A intenção não era magoar, mas trazer um debate sobre como tratamos a morte. Mas o resultado está aí. O preço que pago por minha ousadia é ser mal compreendida".
“O que não cessa de me surpreender é a rapidez de certas pessoas, mesmo as que dispõem de provas abundantes do meu caráter, em sair apontando o dedo para se mostrar moralmente superiores (...) Isso mostra q pra ser bitolado não é necessário ser intolerante religioso, retrógrado, de extrema-direita ou simplesmente burraldo. Nas redes, até quem se diz progressista é capaz de passar um rolo compressor na complexidade de certas questões a fim de reduzir tudo a argumentos pró e contra. A verdade é que ninguém quer fazer o esforço de pensar com independência. Ninguém quer fazer esforço de nada. O único objetivo é pegar bem e se acreditar virtuoso. Nem que pra isso, você tenha de abusar do autoritarismo”, encerrou.
Bárbara Gancia tem razão quando critica a ditadura do virtuosismo. A cultura do cancelamento e a correção política tornaram as redes sociais insuportáveis. Acontece que o caso em questão nada tem a ver com lacração de rede social. Tem a ver com petulância e arrogância.
Não é razoável interpelar desconhecidos no twitter com argumentos da cepa "não é melhor sua parente de 97 anos morrer?". Rede social comporta todo tipo de debate - da eutanásia ao gramado sintético do Allianz Parque -, mas na hora certa, com a pessoa certa. Se intimidade digital é um conceito vago, educação não é. Nesse caso, sublimar o equívoco é dobrar a aposta. É aderir à ignorância da manada que encorpa, por exemplo, a base de apoio do governo federal. "O preço que pago por minha ousadia é ser mal compreendida" é uma bela frase para se bordar no pano de prato, mas só para isso mesmo.
O Brasil tem péssimos debatedores, espalhados em campos diversos. A falência da opinião pública tupiniquim, de certa forma, está resumida na relevância que Bárbara Gancia julga ter. Nas edições do "Superpop" que a CNN Brasil espalha por aí. Essa gente, quando confrontada, adora falar que é "polêmica", que não tem papas na língua e o escambau. Tudo besteira. Quem é polêmico não é obrigado a ser elegante, mas certamente precisa ser inteligente.
Peço orações e good vibes aos intelectuais da série C da alta elite paulistana.