Existe uma motivação estratégica - e egoísta - para a mudança de opinião de Jair Bolsonaro em relação à EBC. Ela está no artigo "A Sociedade Não Quer Empresa Pública de Comunicação", publicado neste Teleguiado em 2016. Reproduzo abaixo o trecho mais nevrálgico.
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"O produto mais caro do portfólio da EBC é a TV Brasil. Anualmente, mais de meio bilhão de reais são desperdiçados em programas que dão audiência zero. Também consomem um bom dinheiro a TV Brasil Internacional, que reproduz a grade daqui para as paredes da África e da América Latina, e a TV NBR. Fracasso de público e crítica, essa estrutura serve apenas para a acomodação dos acadêmicos e jornalistas que espalham lixo nas redes sociais, desviando a atenção dos veículos que realmente constroem as narrativas planejadas pelos estrategistas do governo: a Agência Brasil e "A Voz do Brasil".
Diretamente beneficiada pela deformidade do jornalismo contemporâneo - as redações não produzem mais notícias, preferem criar listas fúteis e repercutir brigas e hoax das redes sociais -, a Agência Brasil tem ocupado cada vez mais espaços nos portais, que publicam os textos, disponibilizados gratuitamente na internet, sem edições. Não raro, até os erros de digitação são mantidos.
Herança da ditadura varguista, "A Voz do Brasil" cumpre desde os anos 1930 a prerrogativa de manipulação dos brasileiros menos instruídos e mais afastados dos centros urbanos. O horário nobre do rádio deixou de ser o noturno, mas a lei que obriga a veiculação do programa nas rádios AM e FM continua firme e forte".
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Em resumo: dado o sucateamento da imprensa, dificilmente um governo abrirá mão da EBC. Financiaremos esse abacaxi até o fim das nossas vidas.