O rei dos animais

Rafael Carvalho/Governo de Transição/Divulgação

O último Datafolha de 2020 revelou que 37% dos eleitores consideram o governo de Jair Bolsonaro ótimo ou bom. O número não é uma Brastemp. Lula, Dilma e FHC chegaram ao segundo ano de seus respectivos mandatos com índices melhores. Ainda assim, causa surpresa. Afinal, como um presidente retrógrado, incompetente e que detesta trabalhar – o momento Sula Miranda é surreal – consegue agradar tanta gente?

Jair Bolsonaro aboliu a agenda liberal, abraçou o centrão e corroeu a política anticorrupção, mas permaneceu fiel à agenda da selvageria. Incapaz de atrair admiradores por seus feitos, investiu todas as suas fichas no papel de encantador dos moralmente frouxos. O resultado está aí: nunca os ignorantes tiveram tanta convicção da própria ignorância. A burrice ascendeu ao rol dos grandes orgulhos nacionais.

A imprensa especializada aposta que a popularidade do governo federal encolherá quando o auxílio emergencial acabar. É uma leitura enviesada. Entre os mais humildes, a taxa de ótimo ou bom do governo é idêntica à média geral: 37%. Entre os mais ricos, sobe para 39%. O pico, de 41%, pertence aos eleitores com renda familiar mensal de cinco a dez salários mínimos. A questão, portanto, passa mais pelos pobres de espírito do que pelos pobres de dinheiro.

Recentemente, Bolsonaro disse, em evento na Bahia, que a vacina contra a Covid-19 pode fazer mal. "Lá no contrato da Pfizer, está bem claro: nós não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema seu".

Um país de jacarés não é má ideia.