Resenha: Jack White – Boarding House Reach

Jack White ficou conhecido por tentar extrair o máximo de som possível da guitarra. Todo esse trabalho foi refletido nos dois primeiros discos solos de sua carreira – Blunderbuss(2012) e Lazaretto (2014). Quatro anos depois, White retorna com um novo disco de inéditas, chamado Boarding House Reach, lançado no último dia 23  de março.

De maneira surpreendente, e isso é um elogio, Jack White coloca em perspectiva o lado gospel de seu gosto musical em "Connected by Love". Ele usa os mesmos elementos que fizeram ser quem ele é na música, mas esse clima quase de pregação é diferente de tudo que ele fez – o órgão ajuda bastante nesse aspecto. Em "Why Walk a Dog?", ele mistura um pouco mais e usa a guitarra bem distorcida, além de manter o clima da faixa anterior.

A longa introdução quase leva a crer que "Corporation" é uma faixa instrumental, mas, exatamente em 3:14, White aparece para mostrar uma faixa sobre ambição (?). Aqui, ele começa a partir para um lado completamente experimental e livre, como se ele estivesse deixando para trás o Jack White do White Stripes, da carreira solo e dos outros projetos. Curta, "Abulia and Akrasia" serve de ponte para "Hypermisophoniac", uma canção feita com brinquedos e criada para ser "estranha" mesmo.

Se pouco antes o White do passado parecia querer morrer, ele retorna com tudo em "Ice Station Zebra" e "Over and Over and Over" – caberiam tranquilamente em qualquer um dos dois discos anteriores. A segunda ainda traz o elemento de ser um pouco mais palatável do que a primeira, principalmente pelo refrão grudento e fácil de decorar. Há uma grande chance de ser um sucesso. E "Everything You've Ever Learned" é curta e muito poderosa, e ainda serve para dar uns bons gritos.

"Respect Commander" é mais uma dessas que White pegou tudo que ele fez na vida e subverteu completamente. Experimental ao extremo, ela soaria bem se fosse acústica, mas, ao apresentá-la assim, ele mostra que está disposto a mostrar outra cara. "Ezmerelda Steals the Show" chega para colocar certa calmaria na parte final no álbum, que não reserva os melhores momentos do trabalho, não.

Por exemplo, "Get in the Mind Shaft" soa estranha até mesmo para padrões mais razoáveis de música experimental, enquanto "What's Done Is Done" – com um toque de gospel – parece ter sido reciclada de algum dos dois discos anteriores e reformada. E "Humoresque" surge para dar ponto final ao disco de maneira melancólica e um pouco sem graça.

O resultado desse disco de Jack White é surpreendentemente (olha a palavra aqui de novo) bom. Ele resolveu acrescentar novos elementos musicais ao que ele fazia e usou muito pouco um tipo de música mais certeira para agradar aos fãs. Isso mostra um caminho com ótimo potencial, porque, sinceramente, já estava maçante ele tocar variações da mesma música. Um ponto a ser elogiado é o senso de unidade do álbum, que funciona melhor como um todo do que singles. Uma pena que a parte final não é tão boa quanto o resto, mas o saldo é bem positivo.