Marília Mendonça é vanguarda

A Folha quer mesmo ser o "Superpop" dos jornalões. Enquanto o "Estadão" destrincha o tratoraço do governo Bolsonaro, a turma da Barão de Limeira discutia... a barriga de Marília Mendonça. Cínica, a publicação sugeriu -- mais de uma vez -- que a cantora, morta na última sexta-feira, fez sucesso apesar da gordura.

Bem, vou contar uma coisinha pra vocês: os fãs de Marília Mendonça nunca deram a menor bola para a forma física dela. A única coisa que interessava (e interessa) aos milhões de seguidores de Marília era (é) sua voz. Nunca houve campanha para ela emagrecer. Como nunca houve campanha para Jô Soares, Péricles, Tim Maia ou qualquer personalidade "cheinha" entrarem na faca. Gordofobia é paranoia de jornalista lacrador que acha que timeline de rede social traduz o convívio social.

Escrever que Marília Mendonça subverteu o que se espera da indústria fonográfica até é simpático, mas um tanto simplista. Ao lado das amigas Maiara, Maraisa, Simone, Simaria e Naiara Azevedo, Marília ajudou as mulheres a encararem a vida com mais leveza, emoção e liberdade. O "feminejo" domestica e educa muito mais do que o feminismo das redes sociais -- que as feministas clássicas, diga-se, também reprovam.

Esqueçam a polêmica barata. Marília Mendonça, como Madonna, Leila Diniz, Rita Lee e outras mulheres de diferentes épocas e posições, deve ser reconhecida como a artista de vanguarda que é. Eu não sou o público dela, mas sei reconhecer o que é cultura pop.