A exemplo de Jair Bolsonaro, que não resiste a um bom clique comendo pão com leite condensado, o ex-presidente Lula adora parecer "gente como a gente". No último fim de semana, o ex-presidente teve a brilhante ideia de posar ao lado de sua namorada, Janja, em um paraíso cearense. Resultado: mídia espontânea nas redes sociais e ampla cobertura na imprensa profissional, que deveria seguir o caminho do petista e tirar umas férias no Nordeste para refrescar a cuca e repensar a vida.
É inadmissível que, três anos depois da traquinagem bolsonarista das mesas cenográficas de café da manhã, as mesmas redações repitam o erro repercutindo uma foto mais ensaiada que os depoimentos da Doutora Cloroquina na CPI da Covid. "Músculos de Lula impressionam fisiculturista", do UOL, é a não notícia em sua essência. Em uma categoria de entretenimento, seria, no limite do limite, divertida. Em "Esportes", um chute no saco.
O jornalismo precisa do clique pra sobreviver, e isso é fato há pelo menos dez anos. "The Newsroom", novelão de Aaron Sorkin, debate muito bem o surgimento do jornalismo caça-clique na terceira temporada -- vários sites americanos oferecem bônus salariais a quem consegue picos de audiência. Na ficção, as boas práticas solapam o "jornalismo cidadão", eufemismo politicamente correto de "jornalismo sem filtro", e os leitores ficam livres para escolher entre o certo e o duvidoso.
No Brasil, tudo é diferente. Tudo é feito nas coxas.