Otávio Frias Filho faleceu na madrugada de ontem, aos 61 anos, em decorrência de um câncer originado no pâncreas. De todos os jornais citados neste Teleguiado, nenhum aparece com a frequência da Folha de São Paulo. A Folha de Otávio Frias Filho.
Sou jornalista de formação e deformação. Meu sonho de criança era trabalhar na Abril - aquela árvore verde reluzente pega de jeito todo mundo que passa pela Marginal. Meu sonho de adulto, escrever na Folha de São Paulo. Realizei esse sonho, por maluquices da vida, muito antes de pegar o diploma. Guardo até hoje o exemplar. É a realização de um projeto. Algo que dificilmente se repetirá - devo, dentro da minha insignificância, ser odiado pelo pessoal que rala o dia inteiro pra fechar o maior jornal do país.
A Folha tem muitas qualidades. A maior, sem dúvidas, é a efervescência. Em 20 e poucos anos de leitura, peguei várias transformações gráficas e editoriais. As cores, o design, os colunistas, os assuntos, as brigas, os textos... tudo me encantava. Aos 12 anos, quem sabe 11, passei a escoltar as edições de domingo. Os classificados ficavam ao alcance de todos. Os cadernos, não. O "TV Folha" não aplacava mais minha fome. Eu queria acompanhar tudo. E acompanhei.
Em uma entrevista ao "Roda Viva", Otávio Frias Filho sintetizou o jornalismo que tentava aplicar no Brasil: "Estou convencido de que os jornais existem para falar mal dos governos. Acho que a função da imprensa é uma função de interpelação, de questionamento. Não cabe à imprensa realçar as coisas que vão bem".
Eu estou convencido de que o jornalismo de Otávio Frias Filho nunca será posto em prática.
Azar o nosso.