Neste domingo, às 11h05, em reportagem publicada na editoria Poder, a Folha de S. Paulo desceu o sarrafo em Jair Bolsonaro por passear de moto sem máscara e aglomerar a militância carioca em plena pandemia. Perfeito. É obrigação da imprensa apontar os absurdos do excelentíssimo presidente da república. O problema é: uma hora antes, a mesma Folha destacou em seu Twitter oficial a notinha "Veja cinco bares onde assistir à final do Campeonato Paulista neste domingo".
"Os torcedores terão que se comportar, ficar sentados em mesas afastadas, manter a máscara enquanto não estiverem comendo ou bebendo e precisarão celebrar —ou lamentar— ao lado de menos pessoas, já que a capacidade dos estabelecimentos segue reduzida a 30%", exalta o zeloso jornal -- quem gosta de bar e futebol sabe que antes do primeiro carrinho de Felipe Melo os torcedores estarão mais aglomerados que os passageiros da linha Diamante da CPTM em horário de pico, mas o autor do texto não tem culpa. O editor reclamaria se ele não bancasse a Velhinha de Taubaté e escrevesse a advertência.
É óbvio que Jair Bolsonaro tem mais responsabilidades que os torcedores de Palmeiras e São Paulo. Acontece que, em meio a uma pandemia que nos últimos sete dias ceifou 1928 vidas, todos devem colaborar no combate ao vírus. Ao convidar os leitores a trocarem seus lares por esses cinco bares, a Folha dá uma de Bolsonaro ao mandar às favas o isolamento social, fundamental neste momento, e passa a incômoda impressão de que seus pesos e medidas estão desajustados.