"Vingadores: Guerra Infinita" é corajoso e caótico

Depois de dezoito filmes em dez anos de Marvel, os diretores e irmãos Anthony e Joe Russo (de “Capitão América: Soldado Invernal” e “Capitão América: Guerra Civil”) reúnem quase todos os heróis da franquia para enfrentar um único oponente em “Vingadores: Guerra Infinita".

Coberto de efeitos digitais, o ator Josh Brolin interpreta Thanos, um alienígena monstruoso que busca coletar todas as Joias do Infinito espalhadas por diversos planetas, incluindo a Terra, e concluir seu plano genocida. Ele acredita que o universo está em desequilíbrio, com poucos recursos para tantas vidas. A solução seria, em sua lógica doentia, matar metade de toda a população do universo. Uma das Joias do Infinito é a pedra que controla o tempo – e tempo é, de fato, um recurso escasso em “Guerra Infinita”, apesar da duração de duas horas e meia.

Com exceção da primeira cena, Thanos passa quase toda a primeira metade da história nos bastidores, mandando seus capangas intergaláticos atrás das pedras. Os capangas não diferem muito uns dos outros. Não sabemos seus nomes, de onde vieram ou por que servem Thanos. Não há tempo para apresentá-los. Seria melhor, talvez, se nem existissem.

É difícil imaginar que tipo de impacto “Guerra Infinita” pode ter em quem não viu todos os 18 filmes da Marvel, pois, a esta altura, quase não há desenvolvimento dos personagens. Momentos como o brevíssimo reencontro entre Bruce Banner e a Viúva Negra dependem de um contexto que o filme não pode transmitir por falta de tempo. Em vez de oferecer momentos dramáticos, “Guerra Infinita” se interessa mais em presentear os fãs devotos com batalhas épicas – que, por ironia, ficam menos significativas por não haver o cuidado necessário para desenvolver as relações entre os personagens.

Um dos elementos essenciais ao sucesso da Marvel é o seu senso de humor. Anthony e Joe Russo chamaram a atenção da MCU pelos episódios que dirigiram das séries cômicas "Arrested Development" e "Community". De fato, para tratar de um monstro roxo com uma luva dourada cheia de pedrinhas coloridas, é necessário um pouco de humor. Falas como a do Homem de Ferro, que resume a situação ao Homem-Aranha com um simples “o alienígena quer roubar o colar do mago”, exploram o absurdo de um universo dominado por super-poderes e heróis.

Em “Guerra Infinita”, há momentos engraçados que são muito bem-vindos, mas há também um exagero. Cenas que poderiam ser mais dramáticas acabam suavizadas com comentários jocosos fora de lugar. É uma prática recorrente, que tira o peso dos acontecimentos e das decisões tomadas. Não há nada de errado com o humor da Marvel, quando aplicado em momentos que não dependem de uma certa seriedade.

É importante notar que, apesar dos defeitos, “Guerra Infinita” faz escolhas corajosas – porque podem desagradar muitos fãs. Em entrevista, os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely disseram que a Marvel permitiu liberdade quase total: “Quando assinamos o contrato, os únicos pré-requisitos eram Thanos, as pedras e um desejo de fazer algo grandioso e épico”.

Markus e Stephen escreveram dois filmes: “Guerra Infinita” e o próximo “Vingadores”, ainda sem título, a ser lançado em 2019. Os irmãos Russo filmaram ambos consecutivamente, durante mais de dois anos – prática adotada pelas irmãs Wachowski (trilogia “Matrix”) e Peter Jackson (trilogia “Senhor dos Anéis”). Sobre a temática adotada, Joe Russo declarou: “o que vocês vão ver no final dos filmes é: o que custa ser um herói em um mundo sem respostas fáceis? Eu acho que este é o mundo onde vivemos”.

Nos resta aguardar até 2019 e torcer por uma resolução menos apressada e caótica.