Dias antes do lançamento de “Venom”, o ator Tom Hardy declarou que 30 dos seus minutos favoritos tinham sido cortados na edição final (o filme tem quase duas horas). Quando atores ou diretores fazem declarações desse tipo é para justificar um produto aquém das expectativas. De fato, parece que Tom Hardy e Michelle Williams, dois atores indicados ao Oscar, perderam uma aposta e foram obrigados a estrelar em uma produção que é um desperdício do tempo e da atenção de todos os envolvidos - do rapaz que recolhe os ingressos do cinema até esta que vos fala.
Hardy interpreta Eddie Brock, um jornalista que abre os emails da namorada Anne (Williams) para investigar um gênio meio maluco (tipo Elon Musk) chamado Carlton Drake (Riz Ahmed), que mata pessoas em testes de laboratório para descobrir uma forma de misturar parasitas alienígenas, chamados “simbiontes”, com seres humanos, só que, como o Edie abriu o email da namorada, e o Drake é muito poderoso, ele é demitido, ela é demitida, e ela termina com ele (eles iam casar, ok?), mas aí ele entra no laboratório caríssimo do ricão lá, que não têm câmeras, com a ajuda de uma cientista incrivelmente burra chamada Dra. Skirth (Jenny State como “Dra. Saia”?), e ele acaba infectado por um simbionte e se torna o Venom. Ficou confuso? Faltou informação? Pois é, no filme é assim também. Não se preocupe.
Apesar de corrida, a primeira hora consegue a proeza de ser entediante. Se resistir, o filme melhora depois que Eddie é infectado e começa a descobrir seus poderes, além de se relacionar com a voz do parasita alienígena que é bastante sensível ao termo "parasita" – mas piora de novo antes de acabar. Não há a mesma esperteza, por exemplo, do “Homem-Aranha” de Sam Raimi, de um personagem que descobre novos poderes e sai para explorar as suas possibilidades. Na verdade, não há muito esperteza de qualquer espécie. “Venom” é tão ruim quanto a peruca que arranjaram para a injustiçada Michelle Williams.
A luta final entre Venom e um outro simbionte chamado Riot (um dos vilões mais esquecíveis da história recente, incluindo todos os vilões em CGI da DCEU que ninguém mais lembra o nome – como, por exemplo, aquele lá com chifres de “Liga da Justiça") parece um quadro de Jackson Pollock. Escuro e indistinguível. Dirigido por Ruben Fleischer, de “Zombieland”, "Venom" é uma co-produção da Marvel com a Sony e a Columbia, mas não faz parte do universo estendido da Marvel. Sem o Homem-Aranha, o diretor poderia ter seguido por um caminho menos convencional e se concentrado na relação de Eddie com Venom de uma forma mais cômica e experimental, mas faltou confiança.