"Roma", de Alfonso Cuarón, é um grande pé no saco
De todos os golpes aplicados pela Netflix em 2018, nenhum supera "Roma", do premiado diretor Alfonso Cuarón, nas categorias chatice e pretensão.
O filme, todo em preto e branco, apresenta o México do início dos anos 1970, muito mais pobre, desigual e violento do que o atual, a partir dos olhos de Cleo, empregada doméstica de origem humilde que passa a maior do tempo limpando o cocô dos cachorros dos seus patrões em um bairro de classe média.
Produções biográficas e semibiográficas - Cuarón não esconde de ninguém a intenção de trazer ao público um pouco de sua infância - são perigosas porque tendem a interessar mais ao idealizador do que ao espectador. "Roma" não foge à regra. A cada 15 minutos de filme, 5 ou 6 são preenchidos com cenas inócuas. Para a memória afetiva do cineasta, as brincadeiras no terraço têm um sentido todo espacial. Para o público? Silêncio sepulcral.
A crítica americana, muito culpada por tudo o que Trump faz e representa, tem rasgado elogios à originalidade de "Roma". Mesmo quem não é cinéfilo (Deus livre o leitor desse mal chamado "ser cinéfilo") conhece histórias e argumentos semelhantes aos apresentados por Cuarón
Alguns elementos de "Roma", para citar um exemplo caro a nós, brasileiros, remetem a "Que Horas Ela Volta?", de Anna Muylaert. No longa, Regina Casé vive uma empregada que esquece a própria origem para ser aceita no seio da família dos patrões. Cleo, interpretada por Yalitza Aparicio, é menos ruidosa e materialista, mas não faz esforço algum para preservar suas raízes. Simplesmente coloca o cocô do cachorro na lixeira e aguarda o dia seguinte.
A imprensa internacional aposta que "Roma" garantirá à Netflix sua primeira indicação de peso na história do Oscar. Se isso realmente acontecer, não vai faltar cocô de cachorro na nossa TV.