Em comemoração aos 50 anos de “2001: Uma Odisseia no Espaço”, o diretor Christopher Nolan esteve na mais recente edição do Festival de Cannes para apresentar uma projeção em 70mm e sem restaurações, em toda sua “glória analógica”, do clássico.
"'2001: Uma Odisseia no Espaço' é um dos filmes mais radicais já feitos. Era radical em 1968, quando foi lançado e quebrou todas as regras de como os filmes deveriam contar histórias. Revendo-o em 2018, é tão radical quanto e mostra mais do que qualquer outro filme que o cinema pode ser qualquer coisa, as suas possibilidades infinitas." Nolan, diretor de títulos prestigiados como "Dunkirk", "Interestelar" e "A Origem”, era muito novo para assistir “2001” em sua estreia. Graças ao sucesso de “Guerra nas Estrelas – Uma Nova Esperança”, em 1977, a obra de Stanley Kubrick foi relançada nos cinemas:
“Meu pai me levou ao maior cinema de Londres, para assistir em 70mm, e eu nunca me esqueci daquela sensação da tela se abrindo e de ser tomado por uma jornada que você nunca achou ser possível. Aquilo permaneceu comigo como uma inspiração do que os filmes eram capazes de fazer.”
Para Nolan, “2001” transcendeu o teste do tempo. “Você não acredita que este filme tem 50 anos, e a profundidade da experiência técnica, é inacreditável que tenhamos feito tão pouco progresso desde então[…]Eu não sei por que o CGI nunca foi capaz de retratar a mesma sensação visceral que você sente na sequência que Douglas Trumbull [supervisor de efeitos especiais] elaborou. Mas nunca conseguiu. Há algo ali que chama a atenção e te suga para dentro que nada feito hoje em dia se compara.”
Em entrevista ao Entertainment Weekly, Nolan diz que um dos questionamentos que “2001” lhe provoca, como cineasta, é, “eu preciso de um diálogo para explicar algo, ou eu posso fazê-lo só com uma imagem?”.
“De vez em quando, fico imaginando o que Kubrick faria em determinada situação[…]Acho que ‘2001' funciona como uma espécie de consciência, assim como alguns filmes mudos também, pois contam uma história de uma forma quase puramente visual, sem abusar de diálogo explanativo[…]Se pode ser feito desta forma por um mestre, então todos nós devemos almejar e testar as fronteiras do cinema.”
Baseado na obra de Arthur C. Clarke, “2001" era tão visual que nem mesmo Clarke reconheceu o próprio livro na adaptação de Kubrick. De acordo com o pesquisador Michael Benson, autor de “2001: Uma Odisseia no Espaço - Stanley Kubrick, Arthur C. Clarke e a Criação de Uma Obra-Prima”, o escritor ficou chocado com o primeiro corte, com cerca de 19 minutos a mais que a versão que conhecemos hoje em dia. Quase dez anos depois do lançamento, Clarke admitiu à BBC que ficou surpreso com o sucesso do filme.
De acordo com Benson, Clarke era um cara verbal e “2001" era uma experiência não verbal. De fato, são 88 minutos sem diálogos, como os 25 minutos da sequência de abertura e os 23 minutos do final. Mesmo com o ceticismo de Clarke e o caráter hermético da obra, a ficção-científica é o maior sucesso comercial de Kubrick, faturou mais que o dobro de “O Iluminado”.
Mas, afinal, o que “2001: Uma Odisseia no Espaço” significa? Clarke disse: “Se você entende '2001' completamente, nós falhamos. Queríamos levantar mais perguntas do que respondê-las.” Ou seja, o filme é uma experiência viva, que se faz presente durante os anos, e não uma conclusão em si. Kubrick deixa de explicar para que a discussão se mantenha, mesmo 50 anos mais tarde.