"O Diabo Mora Aqui" foge do script do cinema brasileiro

img-1038703-o-diabo-mora-aqui-still-2

É possível fazer cinema no Brasil sem leis de incentivo, melodrama social e os sussurros de Selton Mello?

A resposta está em "O Diabo Mora Aqui", primeiro longa-metragem dos diretores Rodrigo Gasparini e Dante Vescio.

Produzido com R$ 200 mil, pechincha perto da safra dos subsidiados, o filme de terror conta a história de quatro jovens que desvendam uma maldição esquecida no porão do casarão do Barão do Mel, fazendeiro conhecido pelos abusos praticados contra escravos.

Imbuídos pelo espírito aventureiro que domina o gênero, os quatro fantásticos inventam um ritual para libertar os espíritos brigões. Triunfam no intento, mas logo se arrependem, porque a ala sobrenatural não entende nada de etiqueta e adora derramar sangue.

Em geral, o terror só é lembrado no Brasil em películas de arte ou peças trash. O maior mérito de "O Diabo Mora Aqui" está justamente no respeito ao gênero. Fotografia, produção, trilha sonora e edição estão na mesma sintonia o tempo todo, tornando o medo uma constante na vida do espectador.

Visualmente exemplar, o filme perde pontos quando o roteiro e o elenco são avaliados. O texto não é ruim, mas perde tempo demais com analogias irrelevantes. Em relação às interpretações, somente Ivo Muller, o Barão do Mel, ofereceu algo acima da média.

Ousado e realmente independente, "O Diabo Mora Aqui" é a prova inconteste de que até o cinema brasileiro pode ter alma.