"Missão: Impossível" chega ao sexto filme da franquia sem sinais de fadiga

Ignorando todas as excentricidades da vida privada – ou, em parte, por causa delas –, Tom Cruise é uma das últimas estrelas de Hollywood. Sempre teremos atores de cinema, alguns serão excelentes, mas poucos deixarão um marca significativa no imaginário popular ao longo de toda uma carreira. De trajetória comparável com a de Douglas Fairbanks (astro de algumas das primeiras versões cinematográficas de “Zorro”, “Robin Hood” e “Os Três Mosqueteiros”, todos da década de 1920), Cruise dispensa dublês, mas o alto risco de suas cenas chocaria qualquer personalidade intrépida de uma era sem tanta preocupação com segurança ou sem o costume de assegurar os atores por quantias astronômicas.

É graças à vitalidade de Tom Cruise – aos 56 anos de idade – que “Missão: Impossível" chega ao sexto filme da franquia, e sem demonstrar qualquer sinal de fadiga. Dirigido por Christopher McQuarrie (“Missão: Impossível – Nação Secreta”, “Jack Reacher”), “Missão: Impossível – Efeito Fallout” comprime toda a tensão da clássica cena do original em que o agente Ethan Hunt, pendurado em um cabo, quase cai no chão, e entrega uma versão anabolizada, com proezas muito mais arriscadas e brutais. A equipe de marketing de “Fallout" poderia, inclusive, ter repetido uma técnica já utilizada em peças publicitárias de obras de terror: gravar a reação da plateia assistindo ao filme e utilizar a gravação como propaganda, pois são inúmeras as caretas de tensão e desconforto – o que é um elogio para o gênero.

Com frequência, McQuarrie posiciona a câmera de forma direta, e com alguns ângulos baixos, o que faz com que o espectador fique se esquivando de tiros, socos, carros na contramão etc. É um ataque sensorial, mas do tipo bom, aliado a uma trilha sonora que ainda consegue renovar o conhecido tema principal. A ação é uma das melhores da franquia, se não a melhor, com acenos aos filmes anteriores e também a clássicos como “Operação França". Já o senso de humor e o drama não estão no mesmo nível da ação, deixando “Protocolo Fantasma”, dirigido por Brad Bird, ainda na liderança do ranking.

McQuarrie ganhou o Oscar pelo roteiro original de “Os Suspeitos”, de 1995, e trabalha com Tom Cruise há 12 anos (escreveu também o excelente “No Limite do Amanhã”, dirigido por Doug Liman). Sem conseguir emplacar os próprios projetos, mesmo depois de ganhar um Oscar, sua carreira mudou por completo ao conhecer Tom Cruise no set de “Operação Valquíria”, cujo roteiro também era de sua autoria. Depois do sucesso de “Nação Secreta” e “Fallout”, McQuarrie deve ganhar mais liberdade criativa como roteirista e como diretor – com ou sem Tom Cruise por perto.