"Jurassic World: Reino Ameaçado" se perde na própria bobeira
Apesar da burrice em torno de uma operação submarina - conduzida em uma noite chuvosa - para resgatar um pedaço de osso de dinossauro caído no fundo do mar, a sequência que abre "Jurassic World: Reino Ameaçado” é, talvez, uma das mais eletrizantes da franquia iniciada por Steven Spielberg em 1990. Por natureza, obras como "Parque dos Dinossauros" exigem uma certa suspensão da descrença mesmo, mas cabe aos roteiristas e aos diretores a tarefa de tornar crível aquilo que, nas circunstâncias do mundo real, nos parece incrível. Dirigido pelo talentoso J.A. Bayona, responsável por “O Orfanato”, excelente filme de terror espanhol, “Reino Ameaçado” se explica muito, mas não convence.
Claire Dearing (Bryce Dallas Howard), antes responsável por manter o parque funcionando no primeiro “Jurassic World”, se tornou uma ativista ambiental que luta pela preservação dos dinossauros, ameaçados por um vulcão prestes a explodir na ilha onde foram criados. Jeff Goldblum faz uma breve aparição como o Dr. Ian Malcolm e defende que os dinossauros sigam seu rumo natural e sejam extintos de novo, corrigindo a interferência humana no meio ambiente e evitando uma catástrofe ainda maior. A tristeza de Claire ao saber que as criaturas não serão salvas é, talvez, um salto duvidoso da atarefada executiva do primeiro filme.
Por sorte, ela recebe uma ligação do milionário Benjamin Lockwood (James Crowell) pedindo a sua ajuda para resgatar os dinossauros da ilha e levá-los a um santuário especial, sem jaulas ou turistas. Para encontrar o último velociraptor sobrevivente, ela precisa convencer seu ex-namorado, o treinador Owen Grady (Chris Pratt), a retornar ao parque com ela. A missão de resgate, contudo, não é o que aparenta ser.
Um possível tema de “Reino Ameaçado” é o que podemos fazer com determinados poderes. Claire antes usava a sua persuasão para gerir um parque que explorava animais criados em laboratório. Agora, na tentativa de preservá-los, ela tenta acordos com deputados. A pesquisa de Owen com o dinossauro Blue lhe ajudou a compreender melhor o comportamento das criaturas, mas, nas mãos erradas, ajuda a criar um predador geneticamente modificado hábil o suficiente para se tornar um assassino perfeito. A ciência e os recursos utilizados para ressuscitar uma espécie extinta e transformá-la em atração turística poderiam ter sido empenhados, por exemplo, na cura do câncer. A cada avanço tecnológico, a raça humana tem a escolha de utilizar suas capacidades para o bem ou para o mal.
O tema seria melhor explorado se “Reino Ameaçado” não se perdesse em longas explicações e se a única orientação na caracterização dos vilões do filme não fosse “pareçam malvados”. As escassas cenas de ação são boas e bem filmadas – infelizmente, quase todas apareceram nos trailers – e a trilha sonora composta por Michael Giacchino é magnífica, como de costume.
Depois da minha sessão, encontrei uma criança chorando no banheiro, dizendo para a mãe que, se as pessoas não cuidarem da natureza, “muitos vão morrer”. Apesar do menino não estar errado, pude perceber como o filme se comunica bem com um público infantil, por ser bastante ingênuo e simplório mesmo. Escolhas estéticas como o sorriso de um dinossauro – sim, o dinossauro sorriu – que finge dormir para atrair uma presa comprovam a infantilidade do tratamento. É possível discutir se “Parque dos Dinossauros” é ou não um filme para crianças, mas Spielberg nunca tratou seu público infantil como se ele fosse bobo.