Frances McDormand é a base de “Três Anúncios Para Um Crime”

Frances McDormand é o Fernando Alonso do cinema. Está acima do nível da concorrência, mas ganha poucos títulos - o piloto espanhol não ganha o mundial de F1 desde 2006; a atriz americana aguarda um Oscar desde 1997.

“Três Anúncios Para Um Crime” não é ruim como o motor Honda que castigou Alonso nas últimas quatro temporadas. Disputa os Oscars de melhor roteiro e melhor filme e é recheado de bons atores. Mas não é um “Fargo”. Uma Renault RS25.

O drama, recém-lançado no Brasil, relata o calvário de Mildred Hayes, mãe da jovem Angela Hayes, vítima de homicídio e violência sexual. Irritada com a inoperância da polícia de Ebbing, incapaz de apresentar provas que levassem ao autor do crime, Mildred aluga três outdoors de uma estrada quase abandonada para cobrar publicamente as autoridades.

A atordoante sequência "estuprada enquanto morria", "e ainda nenhuma prisão", "como é possível, xerife Willoughby?" atrai instantaneamente a atenção da imprensa, que passa a cobrir massivamente os desdobramentos do protesto maternal. Principal alvo de Mildred, Willoughby (Woody Harrelson) é quem menos sente o golpe - acometido por um agressivo de câncer pancreático, ele prefere aproveitar os últimos dias de vida na companhia da esposa e das filhas. Sobra para Jason Dixon (Sam Rockwell), policial acostumado a torturar tudo o que vê pela frente, a busca por vingança. E é aqui que o bom filme de Martin McDonagh quase atola na brita.

Emocionalmente instável, Dixon sai do inferno rumo ao paraíso sem passar pelo purgatório. A intenção do roteirista e diretor Martin McDonagh - retratar as ideias do flanco menos desenvolvido dos EUA - é interessante na teoria, mas desajeitada na prática. As cenas do policial-problema descambaram, mais de uma vez, para a teatralidade, destoando das interpretações do resto do filme.

Em um ano de títulos regulares, "Três Anúncios Para Um Crime" tem o mérito de reunir grandes intérpretes (Frances McDormand e Woody Harrelson) e a inteligência de celebrar a força feminina sem descambar para o feminismo e as polarizações estúpidas das redes sociais. Redime os erros de McDonagh e pressiona os jurados da Academia.