Cinema

Humor bazinga é prioridade de "Deadpool 2"

Se você acredita que o primeiro “Deadpool" ofereceu algo de novo e não apenas um herói que insistia em repetir que não era um herói – cuja principal motivação, porém, era salvar a namorada, tal qual Tobey Maguire interpretando Peter Parker – então é provável que você vá gostar de "Deadpool 2”. Se você acha […]

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Se você acredita que o primeiro “Deadpool" ofereceu algo de novo e não apenas um herói que insistia em repetir que não era um herói – cuja principal motivação, porém, era salvar a namorada, tal qual Tobey Maguire interpretando Peter Parker – então é provável que você vá gostar de "Deadpool 2”.

Se você acha que fazer referências a outros filmes ou outros personagens da Marvel e da DC equivale a um senso de humor; ou que quebrar a quarta parede e fazer comentários metalinguísticos em pleno ano de 2018 é revolucionário; ou que mostrar o dedo do meio ou uma bunda peluda em CGI é transgressor, parabéns, você vai se divertir. Mas se você não se atrai por estes atributos, prepare-se para esboçar o primeiro sorriso depois de, mais ou menos, uma hora de filme, depois que todo o resto do público já foi aos urros com menções a “Frozen – Uma Aventura Congelante“, Justin Bieber, Soldado Invernal, Batman, entre outros.

Na maior parte do tempo, a “comédia" de “Deadpool 2” é a mesma de “The Big Bang Theory”. Não há piadas, só referências. Quem entende a referência, se sente mais inteligente e dá risada (ele chamou o cara de “Soldado Invernal” porque os dois tem braços biônicos, sacou?) – mas, repito, não é uma piada. É um "humor" de nerd para quem nunca foi nerd. É uma ofensa aos nerds de verdade. É uma tentativa desleixada de criar afinidade citando nomes e expressões, é como um pai que pergunta “e aí, filhão, só nos compiuter?”.

Com classificação 16 anos, “Deadpool 2” deveria compensar na ação, mas, apesar de violento, as cenas são mal coreografadas. Há mãos e cabeças decepadas pulando no ar, mas não conseguimos ver como elas foram cortadas. A violência faz sentido se levarmos em conta que o protagonista não consegue morrer, o que tira o significado de qualquer ferimento, mas as cenas de luta passam com a mesma sensação de que nada importa, mesmo que seus oponentes não consigam se regenerar. Dirigido por David Leitch (de “John Wick - Um Novo Dia Para Matar” e “Atômica”), "Deadpool 2” tinha tudo para ser, pelo menos, um filme de ação decente, com coreografias memoráveis, mas a prioridade é do humor bazinga.

Uma das piadas recorrentes do filme é quando Wade Wilson/Deadpool (Ryan Reynolds) olha para a câmera e reclama do roteiro. Se os próprios roteiristas (Rhett Reese, Paul Wernick e Ryan Reynolds) assumem que o roteiro é fraco, então, tudo bem, certo? Errado. De novo, “Deadpool 2" abusa de uma motivação tão velha quanto o Tio Ben, de uma forma ainda mais clichê que no primeiro. Tomado por um conveniente instinto paternal, Wade decide que deve tomar conta de Russell – um mutante adolescente interpretado por Julian Dennison, do ótimo “Uma Fuga Para a Liberdade” –, mas a relação entre os dois nunca é bem trabalhada e parece forçada (como de fato é).

Cable (Josh Brolin – sim, mencionam Thanos, o cinema foi aos berros) é um exterminador do futuro que quer matar Russell antes que ele mate sua família. Viagem no tempo. Em um filme X-Men. De novo.

“Deadpool 2” só melhora quando é formada a X-Force para combater Cable e resgatar Russell. A heroína Domino (Zazie Beetz, de "Atlanta"), cujo superpoder é ter sorte, é um sopro de ar fresco em meio ao caos e niilismo. O filme se beneficia muito quando se afasta da narração de Ryan Reynolds e coloca Deadpool em contato com outros personagens, ou seja, quando o foco não é o próprio Deadpool.

Reynolds é, de fato, carismático, mas o desespero do filme em querer agradar da forma mais adolescente, isto é, sendo pseudo-diferentão sem de fato propor nada de novo, é um teste de paciência que não deve arrebanhar ninguém além dos que já gostavam do herói.