Gal Gadot apareceu pela primeira vez como Mulher Maravilha no desastroso Batman vs. Superman: O Alvorecer da Justiça (2016), um dos grandes “vencedores" do Framboesa de Ouro deste ano. Nele, há uma cena em que Diana Prince, alterego da Mulher Maravilha, se senta na frente de um laptop e assiste aos teasers dos próximos filmes do universo DC, deixando transparecer o desespero da produtora em emplacar alguma franquia. Grande parte do sucesso da concorrente Marvel se deve ao fato de que filmes como O Homem de Ferro (2008) e Capitão América: O Primeiro Vingador (2011) não sofriam de déficit de atenção e, em vez de plantar inúmeros easter eggs e abrir brechas para futuros projetos, trataram de contar as histórias dos personagens que tinham em mãos. É o que a diretora Patty Jenkins tenta fazer em Mulher Maravilha.
Todo o universo das amazonas de Temiscira, ou “Ilha Paraíso”, é apresentado de forma sólida, desde a infância de Diana, seu treinamento em combate – vale notar a presença marcante de Robin Wright como Antiope, cuja participação seja talvez breve demais – até a queda do avião de Steven Trevor (Chris Pine), perseguido por alemães durante a Primeira Guerra Mundial.
Ao saber dos horrores da guerra, Diana decide que precisa partir para “o mundo dos homens” e literalmente encontrar e matar Ares, o Deus da Guerra, quem ela acredita ser o verdadeiro responsável pelos conflitos entre a raça humana. Com uma premissa tão absurda, repleta de deuses gregos e armas como o laço da verdade, o espião Steven serve como um importante contraponto humorístico e interesse romântico para Diana. É graças à leveza de Chris Pine e à franqueza de Gal Gadot que conseguimos acreditar em tudo que nos é apresentado.
Gadot consegue ser crível como uma semi-deusa, conhecedora de centenas de línguas, e, ao mesmo tempo, uma jovem idealista que pouco entende a complexidade da natureza humana. Acreditamos em sua surpresa ao ver neve pela primeira vez e também em sua força ao erguer um tanque de guerra do chão. Tudo é verossímil graças à sua performance. Sua Mulher Maravilha é uma heroína sem ironia ou ambiguidade, mais parecida com o Super Homem de Richard Donner do que com o Batman de Christopher Nolan. Não houve tentativa de torná-la mais sombria e complexa para dar ao filme uma aparente sensação de profundidade e atualidade, como muitos imitadores de Nolan tentaram fazer nos últimos anos. Nesse sentido, trata-se, finalmente, de um filme de super-herói para se assistir na infância – e, especialmente, por meninas.
As críticas ultra elogiosas que Mulher Maravilha têm recebido são, sim, excesso de boa vontade com uma produção sobre uma super-heroína dirigida por uma mulher, mas é fato que o filme é o melhor que a DC já ofereceu até agora (o que, convenhamos, não é muito). O terceiro ato não é bem resolvido, a batalha final é menos empolgante do que as outras e o final é previsível, mas Patty Jenkins conseguiu estabelecer a mitologia por trás da personagem e criar uma Mulher Maravilha, ao mesmo tempo, forte e vulnerável – uma excelente base para o que vier pela frente.
A DC respira aliviada.