"Unidade Básica" e o efeito placebo na TV

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Menina dos olhos do canal Universal, "Unidade Básica" não economiza nas referências à série "House". Da vinheta de abertura às deixas para os intervalos comerciais, tudo remete ao universo do Princeton-Plainsboro Teaching Hospital. Com provisão de oito episódios curtos, de aproximadamente trinta minutos, tinha tudo para ser o genérico brasileiro do icônico drama americano. É apenas um placebo caro.

"Mad Men", "Sopranos", "Breaking Bad" e "The Wire" não arrebataram o público e a crítica pinçando assuntos difíceis. Todo o encanto em torno dessas produções, estudadas superficialmente por nossos roteiristas e executivos, parte da profundidade psicológica dos personagens. O suicídio, o consumo de drogas e a imoralidade da sociedade, temas rotineiros nessas séries, surgiram organicamente.

Em "Unidade Básica", como é praxe na dramaturgia nacional, a espontaneidade passa longe. Tirando Caco Ciocler, o Dr. Paulo, todos os atores evocaram estereótipos de novela das seis para compor seus personagens. Rica e imatura, a residente Samara (Bianca Muller) lida com os pacientes pobres e a precariedade do posto de saúde com a mesma delicadeza da Dona Tereza Mercantil, a aluna esnobe da "Escolinha do Professor Raimundo". Cética e resistente ao contato com os moradores da periferia, a Dra. Laura (Ana Petta) não transmite tensão quando confrontada. Retrospecto frustrante para uma série que pretende vender a humanização da medicina.

O texto de "Unidade Básica" contribui para o desempenho do casting. Os casos clínicos, supervisionados pelo Hospital Sírio-Libanês, são verossímeis, mas subaproveitados. Em vez de valorizar a evolução da doença e a corrida pelo diagnóstico, o roteiro prioriza a burocracia do serviço público, tornando o SUS ineficiente também na televisão. Os diálogos, didáticos, também colaboram para a ausência de dramaticidade.

A ficção brasileira continua sem remédio. E não para de mancar.

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A série "Unidade Básica" é exibida aos domingos, às 22h00.