Obra-prima de David Lynch, "Twin Peaks" mudou a ficção na TV
Imagine levar ao ar na TV americana, acostumada com séries padronizadas, produzidas como um leite com Toddy, um drama que começa em um assassinato e termina, trinta anos depois, com um berro. David Lynch fez (ousou) isso em abril de 1990 na ABC, a RedeTV! dos canais abertos do Tio Sam.
Se a HBO escolheu ser um canal de contracultura, corajosa o suficiente para exibir Larry Sanders, Sopranos e OZ no cabo, David Lynch preferiu o caminho mais possível: ser ousado, intransigente, intrigante em meio à sangrenta guerra pela audiência dos EUA. "Twin Peaks" era uma pedra preciosa envolta por sangue, mistério, anões, medo e humor absurdo. O "quem matou Laura Palmer?", para desespero da ABC, que impediu o curso natural da série, era parte de toda a loucura, que só chegaria ao fim --se é que aquilo foi um fim-- no Showtime, em 2017. A abertura com trilha sonora adocicada, as cenas bucólicas e o comportamento robótico do agente Cooper davam mais graça àquela viagem à imaginação, oferecida gratuitamente e de supetão na TV.
David Lynch não está mais entre nós, mas estética e a inteligência de "Twin Peaks" guiarão a ficção audiovisual para sempre.