O Emmy 2015 e o 7 a 1 da ficção

Emmy/reprodução
Emmy/reprodução

Ao publicar, na semana passada, uma pesquisa que citava Friends como a melhor série da história, a revista "Hollywood Reporter" antecipou o infeliz futuro das premiações americanas.

A edição 2015 do Emmy, a primeira a contabilizar votos de todos os integrantes da academia televisiva, não será lembrada pelo discurso da atriz Viola Davis, mas pelas incompreensíveis vitórias de "Game of Thrones" sobre "Mad Men" nas categorias melhor série e melhor roteiro.

Produções descompromissadas podem ser reconhecidas nas premiações. Precisam, entretanto, oferecer contrapontos além dos recordes de audiência e de downloads ilegais, atributos que só importam - para o bem e para o mal - a quem exibe a série.

"24 Horas", um produto recente e popular, nunca ostentou atuações e passagens primorosas, mas conquistou espaço na lista dos melhores da TV ao introduzir um conceito temporal inédito. "Game of Thrones", em cinco temporadas, proporcionou apenas um punhado de dragões e cenas de sexo. Nada muito diferente das aventuras da Emmanuelle.

Os últimos anos intensificaram a divisão da indústria do entretenimento. Os interessados em diversão, efeitos especiais e inovação tecnológica ganharam a companhia do cinema, enquanto os fãs dos bons roteiros migraram para a televisão. Ainda existe, obviamente, filme de arte e sitcom da CBS, mas os filões estão bem definidos.

Ao reverenciar a pipoca, o Emmy pode patrocinar a regressão dos dramas e da qualidade como um todo. Pois, se a HBO tem dinheiro pra bancar desde a sofisticada "Sopranos" até a fantástica "Game of Thrones", o mesmo não pode ser dito a respeito de AMC e outros canais pequenos. Qual tecnologia eles vão oferecer quando tentarem seguir o trilho da referência do mercado? O sucateamento é óbvio.

A covardia de Don Draper, o grande personagem de "Mad Men", contaminou a academia televisiva.