Ensemble show: a joia da coroa da TV

Novelão sofisticado, “Dallas” contribuiu muito para o surgimento dos dramas de qualidade ao trabalhar a memória dos personagens.

Se as séries dos anos 1970 perseguiam tramas rápidas, com início, meio e fim em 45 minutos, a partir de 1980 a busca ficou mais sofisticada.

Pouco conhecida no Brasil (a Manchete exibiu alguns episódios em 1983), “Hill Street Blues” é a precursora da revolução audiovisual que desencadeou a “era de ouro da televisão americana”.

A exemplo da ótima série “House”, que semanalmente apresentava um caso clínico e, paralelamente, desenrolava o calvário emocional do Dr. Gregory House, “Hill Street Blues” prendia a atenção do público em duas frentes. Cada episódio possuía uma trama principal, de resolução imediata, e um conjunto de tramas secundárias complexas, de duração indefinida.

A narrativa modular de “Hill Street Blues” incentivou o mercado a criar histórias mais ousadas e complexas, dotadas de memória, noção temporal (contribuição, na verdade, de “I Love Lucy”) e personagens psicologicamente densos.

"Se você imaginar uma tela de pintura, o que acontece: a série se torna um ambiente propício para maior exploração dos personagens, o que o tempo em cinema não propicia. Como você tem uma tela maior, o produto vai ser diferente do que o do cinema, onde você tem de 90 a 120 minutos. O Scorsese foi para a HBO porque a história que ele tinha pra contar precisava desse espaço maior para se desenvolver, assim como o Tarantino queria que Bastardos Inglórios fosse uma minissérie", explica o roteirista Célio Ceccare.