O golpe com data marcada
Os comandantes da Aeronáutica, do Exército e da Marinha entregaram seus cargos nesta terça-feira. A decisão, inédita na história do Brasil, sucede o pedido de demissão do Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, que não aguentava mais a pressão da ala golpista -- sempre bom usar a palavra correta: golpista -- do governo federal.
Jair Bolsonaro é, sem sombra de dúvidas, incompetente. De todos os presidentes da história do Brasil, é o mais limitado intelectualmente. Quem reduz a zero a chance de ruptura inconstitucional sempre lembra a lerdeza do ex-astro do Superpop para apaziguar ânimos e restabelecer o "estado performático de direito". Acontece que Jair Bolsonaro não está sozinho. Todo Pinky é acompanhado por um Cérebro. E o Cérebro tupiniquim é uma entidade muito menos simpática e humana que o ratinho branco.
Se Bolsonaro é Pinky, nosso Congresso parece produto da ACME Corporation. Das agressões aos governadores às sugestões de insubordinação das forças policiais, passando pela gestão desastrosa da crise sanitária, não faltaram razões para deputados e senadores engrossarem a voz. A maioria preferiu limpar as mãos sujas de sangue com o dinheiro das emendas e seguir o cortejo. O futuro, tenho fé, cobrará a fatura por essa omissão fatal, venal, incensada pelas notinhas de repúdio de Rodrigo Maia, que agora que está longe da presidência da Câmara brinca de crítico do governo para apagar a imagem de cúmplice da barbárie.
Não importa se o governo Bolsonaro é ou não capaz de aplicar um golpe ou um autogolpe. A mera intenção, escancarada nas últimas 24 horas, é motivo para corrigirmos os rumos. A República Federativa do Brasil pode ser horrível, mas sempre será melhor que uma Republiqueta Federativa do Brasil.