Nem tudo é cancelamento
A entrevista coletiva que Mamãe Falei concedeu neste sábado foi uma das coisas mais patéticas que assisti na vida. É inacreditável que um deputado estadual de um grupo articulado como o MBL ache razoável falar em "momento de empolgação" e forjar juventude aos 35 anos. Jovem ele era dez anos atrás, quando brincava de Repórter Vesgo com os petistas. Mal comparando, é como se o Gugu sentasse no sofá da Hebe uma semana depois do escândalo do PCC e falasse "eu sou um novato". Isso não é pedir desculpas. É repintar a ambulância e falar que é nova. É tapar o sol com a peneira. Custava descer do avião e simplesmente dizer "Errei. É isso"?
Os simpatizantes de Mamãe Falei estão encafifados com os adversários que usaram esse episódio nojento para simular virtudes. Compreendo a revolta, mas qual a surpresa? Rede social é sinônimo de retranca. Todos jogam fechadinhos para ganhar de 1 a 0 o amistoso dos algoritmos -- a opinião pública é outra coisa, felizmente. O youtuber fez graça no grupinho dos amigos peladeiros por livre e espontânea vontade. Sofreu um 7 a 1 e ainda prejudicou o saldo positivo da missão do MBL na Ucrânia, amplamente repercutida na imprensa.
“Homens e mulheres falam do sexo oposto exatamente como o Arthur fez nos áudios”, alguém inevitavelmente falará. É verdade. Acontece que essas pessoas não jogam bola com o Arthur. Nem frequentam regiões de guerra repletas de refugiadas. Elas não são castigadas pelo contexto. Arthur é. E o contexto dele está nos celulares de milhares de pessoas, armado como um coquetel molotov.
Deputado estadual, Mamãe Falei tinha a intenção de concorrer ao governo de São Paulo em 2022. Ele desistiu da candidatura para não prejudicar Sergio Moro.
“Nesse momento delicado da política nacional, é necessário preservar o árduo trabalho de todos aqueles que se dedicam na construção de uma Terceira Via. O projeto não merece que as minhas lamentáveis falas sejam utilizadas para atacá-lo”, disse.