Esquerda ilariê é um problema para Lula
A direita liberal morreu. Já vai tarde. Quem aposta todas as suas fichas em temas populares como “herança de grandes fortunas” e “taxação regressiva”, exibindo o vocabulário da Bloomberg para gente que não tem tempo de assistir ao “Jornal Nacional” merece mesmo ir para o beleléu. Falta agora o Brasil se livrar do seu equivalente canhoto.
A esquerda ilariê é tipicamente urbana e oferece a Lula o mesmo tratamento que as paquitas ofereciam para a Xuxa. Ela não anda com coletes que parecem poltronas da Viação Cometa, mas repele os alôs hostis dirigidos ao reizinho e à caravana da democracia, a esta altura reduzida a um programa infantil descolado da realidade. Quem é o dengue? O Ciro Gomes. E o praga? Todos que não aceitarem a brincadeira. Eles são invencíveis, pode crer.
Liderada pela esquerda ilariê, a campanha “vira voto” dos últimos dias só não foi mais constrangedora que as pesquisas Ipec e Datafolha divulgadas na véspera do primeiro turno. As mesmas pessoas de sempre pressionaram os mesmos infelizes de sempre em busca de votos que, convenhamos, migrariam para o PT mais cedo ou mais tarde. Ou alguém acha que o eleitor de Ciro Gomes é raivoso e dolorido como o Brizola de Sobral? Faltou, mais uma vez, bolo e café.
É possível que Lula vencesse a eleição se aquela mala do “Pfaizer” calasse a boca pro resto da vida. Eu desenterraria as minhas duas avós e as carregaria até a seção eleitoral mais próxima para votarem no PT se essa oferta estivesse na mesa. Acontece que a única propaganda pró-Lula nessa reta final foi a hipótese de aniquilação do Bolsonarismo em turno único. As pesquisas induziram muita gente a trocar o 12 pelo 13 nas urnas para acabar logo com o apuro bolsonarista. Mas não foi assim. Os números estavam errados. O petista agora terá de descobrir o interesse dos milhões que permaneceram fiéis ao cirismo e dos milhões que votaram em Simone Tebet.
Antes da abertura das urnas, centenas de exemplares da esquerda ilariê compartilharam no Twitter experiências sobrenaturais de contato imediato com a verdadeira democracia. Da mesária de camisa vermelha à criancinha que cantou a “internacional socialista” no pátio do colégio eleitoral, não faltaram personagens fantásticas para abrilhantar a aventura democrática dessa turminha que precisa de crachá para reconhecer gente de verdade. No que depender dessa militância, Lula continuará com os votos que recebeu em 2 de outubro, correndo o razoável risco de ser superado por Bolsonaro daqui quatro semanas.