Gusttavo Lima é bode expiatório

Claro que é errado um município de 23 mil habitantes filar dinheiro do Fundo de Itaipu para contratar shows de música sertaneja. Gusttavo Lima é o cantor mais famoso do Brasil e não precisa de dinheiro público para sobreviver. O problema, no entanto, não está em quem aceita a grana. Está em quem oferece.

Prefeitos de cidades interioranas sempre gastaram milhares de reais com shows de artistas populares. Era assim na década de 1990, durante a explosão do axé. Gente que vota em Lula, FHC, Marina Silva, Eneas, Bolsonaro e Fleury encheu os bolsos se apresentando em festas do milho, da uva e do algodão. A imprensa só não tinha interesse pelo tema.

Quem defende o financiamento público da cultura costuma apontar exemplos de EUA, polo do entretenimento, e da Coreia do Sul, novo centro do cinema mundial. É uma distorção. Americanos e coreanos criam gatilhos para que o dinheiro do contribuinte  não vire capim. Em suma, são países artisticamente industrializados, que movem cadeias de produtoras, atores, músicos e técnicos. Não há nada remotamente parecido com isto no Brasil —a menos que você enxergue como parte da engrenagem o ambulante que vende cervejas em isopores encardidos durante os shows do Zé Neto & Cristiano.

Gusttavo Lima jamais seria investigado se não manifestasse simpatia a Jair Bolsonaro em um show em Brasília. E é questão de tempo para que alguém acuse Daniela Mercury ou outra eleitora de Lula de fazer o mesmo. Como no caso do McPicanha, tudo vai terminar em nada. O que a imprensa e o Ministério Público querem é um palco para fazer show.