O jornalismo que tortura números para forjar machismo

Foto: Divulgação Fox Sports

O Notícias da TV afirmou, em reportagem publicada na última sexta-feira, que a baixa audiência do Fox Sports 2 reflete o machismo do público, incapaz de aceitar uma equipe de totalmente feminina encabeçando as transmissões da Copa do Mundo.

O texto, creditado à redação, informa que o Fox Sports 1 registrou, em 20 de junho, média de 59.580 telespectadores por minuto, contra 3.840 telespectadores do Fox Sports 2. Coloca na conta das meninas da cabine e dos meninos do sofá a façanha de colocar o canal atrás dos três SporTVs e do Esporte Interativo na pesquisa nacional da Kantar Ibope Media.

É triste jogar contra o progressismo, mas o Fox Sports 2 nunca foi um sucesso de audiência. Agora movido a corridas de Nascar, Fórmula E e jogos esporádicos da Copa do Mundo, a filial do Fox Sports fechou o mês passado atrás da matriz, da frota do SporTV, do Esporte Interativo e da ESPN Brasil. A vontade de lacrar é maior que a vontade de apurar?

Pior que ignorar a diferença de programação dos canais Fox Sports e a ultrapassagem sobre a ESPN Brasil é a comparação com o SporTV. Fox Sports 2 e SporTV, indubitavelmente, disputam o menos público, mas não compartilham o mesmo universo. O SporTV está na maioria dos pacotes de entrada das operadoras de TV paga. O Fox Sports 2, não.

A diferença de alcance dos canais Fox Sports, por si só, já basta para demolir a tese do machismo. Há, entretanto, um outro elemento ignorado pelo autor do texto: o hábito. O público, por causa dos campeonatos nacionais de futebol, está acostumado com as vozes de Nivaldo Prieto, João Guilherme e Téo José. Isabelly Morais, como qualquer profissional competente, tem todas condições de gravar seu grito de gol na memória afetiva do telespectador. Precisa apenas de tempo e tranquilidade.