Secretário de Cultura da gestão Doria defende obrigatoriedade de conteúdo nacional na Netflix
O secretário de cultura da gestão Doria, André Sturm, publicou um artigo na Folha de São Paulo desta terça-feira defendendo abertamente a regulamentação da Netflix e das outras plataformas de vídeo sob demanda do mercado.
Para impedir que os "megaoperadores internacionais" conspirem contra as séries e filmes de qualidade que brotam do asfalto quente, o cineasta propôs a criação de uma cota para a produção de conteúdo tupiniquim.
"Em países como França e Itália, parte da receita das plataformas de VOD deve ser obrigatoriamente investida na coprodução ou aquisição de direitos de produtos nacionais. (...) Ao impor que parte da receita seja investida em produtos nacionais, a plataforma tem total liberdade de escolher o produto que mais se encaixa em seus interesses".
O Brasil não é a França. Nem a Itália. Nossa realidade é "Polícia Federal: A Lei é Para Todos" e aquele filme do Plano Real que parece uma esquete dos anos 90 do "Casseta e Planeta". São poucos os filmes que vingam por aqui. E são esses poucos filmes que infernizam a vida dos assinantes da TV paga, penalizados pela Ancine em 2014 com a faixa de programação nacional.
Pior que a comparação entre Brasil, França e Itália é a ideia de liberdade de André Sturm. Se a Amazon vai ser obrigada a queimar 2% da receita dela para investir em títulos brasileiros, não há "total liberdade de escolher o produto que mais se encaixa em seus interesses". Há, no máximo, o direito de escolher entre um tiro na orelha e uma facada na barriga.
Nos últimos anos, os brasileiros enfrentaram canetadas da Ancine na TV a cabo, na distribuição de filmes nos complexos de cinema (os blockbusters, desde 1º de janeiro de 2015, só podem ocupar 35% das salas disponíveis, sob pena de multa) e por muito pouco não aguentaram medida semelhante nas plataformas on-line. Está na hora dos produtores pararem de culpar os consumidores pelo insucesso de seus projetos e deixar em paz quem paga o espetáculo.