"Me Chame Pelo Seu Nome" é uma história de amor universal

“Me Chame Pelo Seu Nome” é lento como uma tarde ensolarada de um domingo de verão. E é mais lento ainda porque, no dia seguinte, você não estuda e também não trabalha, pois está de férias em uma vila italiana do século XVII. Sua rotina é ler, tocar piano, passear de bicicleta, nadar no lago e fazer as refeições ao ar livre com sua família, sob um grande pé de pêssegos. Dirigido por Luca Guadagnino, o filme recompensa quem estiver disposto a desacelerar e contemplar detalhes preciosos de uma história sensível e de interesse universal, não apenas gay.

Passado em 1983, o filme acompanha o verão do adolescente Elio (Timothée Chalamet) e do recém-chegado Oliver (Armie Hamer), colega de trabalho de seu pai, e a crescente intimidade entre os dois. Guadagnino não tem pressa em construir a relação do casal, de testar seus limites e seu grau de confiança. A diferença de idade é tratada de forma muito cuidadosa e delicada. O diretor também optou por não exibir cenas de sexo explícito. No ápice de seu relacionamento, a câmera se afasta da cama e mostra a vista da janela do quarto de Elio.

No Festival de Cinema de Nova York, Guadagnino disse que "colocar o nosso foco no sexo seria uma invasão grosseira […] Acho que o amor está em todas as coisas, então quando olhamos para a janela e vemos as árvores, é uma forma de testemunhar isso. Me recuso veementemente em dizer que fui tímido por não mostrar [o sexo], porque acredito que Oliver e Elio, e Armie e Timothée, todos os quatro demonstraram muita intimidade e proximidade, e de formas tão variadas, que foi suficiente.”

De fato, é a delicadeza de Guadagnino que torna “Me Chame Pelo Seu Nome” diferente de outros filmes de temática gay e queridinhos do Oscar como "Filadélfia", “O Segredo de Brokeback Mountain" ou “Moonlight: Sob a Luz do Luar”. Sem entregar tanto assim, já que a grandeza do filme está nos detalhes, Elio e Oliver escapam das consequências mais terríveis que, em geral, acometem aos protagonistas gays, sejam elas as doenças, as perseguições ou os preconceitos. Os pais de Elio, interpretados por Amira Casar e pelo maravilhoso Michael Stuhlbarg, desempenham um importante papel neste sentido.

A última cena, que perdura durante os créditos finais, mais do que justifica a indicação de Timothée Chalamet ao Oscar. Sua expressão varia rápida e sutilmente entre melancolia, gratidão, esperança e melancolia de novo, deixando o futuro de seu personagem aberto à nossa interpretação.

Com uma trilha sonora que mistura belas composições em piano, um saudoso pop europeu dos anos 80 e músicas originais de Sufjan Stevens, “Me Chame Pelo Seu Nome” deixa uma atmosfera nostálgica que evoca lembranças de amores passados, seja qual for a sua orientação sexual.